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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Um trecho marcante de Philip K Dick


— Este prédio, tirando o meu apartamento, está totalmente bagulhificado. 
— Bagulhificado? — ela não entendeu. 
— Bagulho é todo tipo de coisa inútil, como correspondências sem importância, caixa de fósforos vazia, embalagem de chiclete ou homeojornal de ontem. Quando ninguém está por perto, o bagulho se reproduz. Por exemplo, se você vai dormir e deixa algum bagulho próximo ao seu apartamento, na manhã seguinte, quando acordar, terá o dobro daquilo. E vai sempre acumulando, mais e mais. 
— Entendi. — A garota o observou hesitante, não sabendo direito se acreditava nele. Não estava certa de que ele estivesse falando a sério. 
— Existe a Primeira Lei do Bagulho — disse Isidore. — Bagulho expulsa o não bagulho. Como a lei de Gresham sobre o dinheiro ruim. E nesses apartamentos não tem havido ninguém para combater o bagulho. 
— Então ele tomou conta de tudo completamente — a garota concluiu. E assentiu: — Agora entendo. 
— Esse seu apartamento — ele disse —, este que você escolheu, está bagulhificado demais. A gente pode reduzir o fator bagulhífico; podemos dar uma geral nos outros condaptos, como eu havia sugerido. Mas... — ele parou. 
— Mas o quê? 
— Não dá pra ganhar essa disputa. 
— Por que não? — [...] Pelo menos ela estava prestando atenção. 
— Ninguém pode vencer o bagulho — ele disse —, a não ser temporariamente e talvez em um único lugar, como em meu apartamento, onde eu meio que criei uma estase entre as pressões bagulhíficas e não bagulhíficas, por enquanto. Mas um dia eu vou morrer ou ir embora, e então o bagulho voltará a tomar conta de tudo. É um princípio universal que opera por todo o cosmo; o universo inteiro está se movendo na direção de um estado final de total e absoluta bagulhificação.