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domingo, 26 de março de 2017

Um trecho marcante de João Guimarães Rosa


A roupa lá de casa
não se lava com sabão:
lava com ponta de sabre
e com bala de canhão..." 
Cantar, só, não fazia mal, não era pecado. As estradas cantavam. E ele achava muitas coisas bonitas, e tudo era mesmo bonito, como são todas as coisas, nos caminhos do sertão. 
Parou, para espiar um buraco de tatu, escavado no barranco; para descascar um ananás selvagem, de ouro mouro, com cheiro de presépio; para tirar mel da caixa comprida da abelha borá; para rezar perto de um pau–d'arco florido e de um solene pau–d'óleo, que ambos conservavam, muito de–fresco, os sinais da mão de Deus. E, uma vez, teve de se escapar, depressa, para a meia–encosta, e ficou a contemplar, do alto, o caminho, belo como um rio, reboante ao tropel de uma boiada de duas mil cabeças, que rolava para o Itacambira, com a vaqueirama encourada — piquete de cinco na testa, em cada talão sete ou oito, e, atrás, todo um esquadrão de ulanos morenos, cantando cantigas do alto sertão. 
E também fez, um dia, o jerico avançar atrás de um urubu reumático, que claudicava estrada a fora, um pedaço, antes de querer voar. E bebia, aparada nas mãos, a água das frias cascatas véus–de–noivas dos morros, que caem com tom de abundância e abandono. Pela primeira vez na sua vida, se extasiou com as pinturas do poente, com os três coqueiros subindo na linha da montanha para se recortarem num fundo alaranjado, onde, na descida do sol, muitas nuvens pegam fogo. E viu voar, do mulungu, vermelho, um tié–piranga, ainda mais vermelho — e o tié–piranga pousou num ramo do barbatimão sem flores, e Nhô Augusto sentiu que o barbatimão todo se alegrava, porque tinha agora um ramo que era de mulungu."

João Guimarães Rosa  A hora e vez de Augusto Matraga

quinta-feira, 23 de março de 2017

#OPodcastÉDelas — Priscilla Rúbia

~Texto da escritora convidada Priscilla Rúbia, podcaster dos programas CabulosoCast e Perdidos na Estante, em apoio à campanha #OPodcastÉDelas, integrada por diversos produtores de conteúdo para a internet — como podcasters, bloggers e vloggers — nesse mês de março de 2017.~




Fui descobrir o mundo dos podcasts quando resolvi usar a internet ao meu favor e procurar sites que falavam sobre o meu maior hobby: a leitura. Para minha surpresa, a internet estava lotada de blogs literários. Mas gostaria de ir além; gostaria de conversar sobre o hobby com outras pessoas apaixonadas; então, a grande felicidade foi descobrir o podcast.

Depois de muito comentar em um deles, o CabulosoCast, fui convidada a participar do mesmo. Eu! O que eu poderia acrescentar, o que eu poderia falar que outros já não tinham falado? Eu não sabia, na época, mas o convite seria de muita importância e mudaria meu mundo. Eu entraria em contato com muitas pessoas interessantes e faria os melhores amigos. Eu poderia escrever, outro hobby que preciso praticar mais. Mas, por mais que em toda a minha vida eu tenha ouvido coisas que me fizeram me sentir menor por ser mulher, ainda é estranho e chocante o quanto minha opinião pode ser considerada lixo por causa do meu gênero.

Para algumas pessoas isso é o tal vitimismo — #mimimi —, mas quando um homem expõe uma opinião e as pessoas não concordam com ela, elas dizem que não concordam. Num caso extremo, o xingam de incompetente. Se é uma mulher a expor a opinião, e essa opinião for recebida negativamente, procuram primeiro saber como é a aparência dela, porque pelo jeito isso vale muito quando temos uma autora em vez de um autor.

Tudo isso faz com que muitas mulheres fiquem fora desse mundo de criador de conteúdo, de ser podcaster. É melhor ler em casa e escutar sobre o livro sem falar muito. Usar um nome falso para comentar, talvez. Um nome masculino, claro, como J. K. Rowling fez.

Depois de ser podcaster eu passei a admirar, cada vez mais, as mulheres que criam conteúdos e expõem suas opiniões. Porque não é fácil, não mesmo. Por isso a quantidade de homens ainda é maior na podosfera. E acontece, frequentemente, de eles quererem mudar esse número, convidando mulheres para participar de programas — mas acabam não deixando–a falar, interrompendo–a com frequência, só colocando o nome dela na chamada do programa pra mostrar que “aqui não, aqui a gente chama mulher, amamos todas elas!”…

Porém, se você, mana, é criadora de conteúdo, ou talvez pensa em ser, se gostaria de escrever sobre aquele livro/mangá/HQ que gostou muito ou que talvez tenha odiado, se quer participar de um podcast ou talvez criar o seu podcast, só tenho a dizer: vá em frente. Não vai ser fácil, mas se você pensar que irá incentivar outras mulheres a fazer o mesmo, já vale a pena. Quando uma mulher ouve outra em um podcast, dizendo sua opinião ou ainda acrescentando conteúdo no assusto discutido, é maravilhoso. Aquela mulher que participa, que fala, que escreve, talvez não saiba, mas muda a vida de muitas mulheres e as incentiva. Bom, a minha mudou. E sendo podcaster e escrevendo — escrevendo esse texto —, espero que mude de alguma forma a sua também.

sábado, 11 de março de 2017

Outro desafio literário para 2017!


Quando de minha única visita à Livraria Cultura, em São Paulo, adquiri duas coisas:

Um exemplar já difícil de encontrar, da extinta editora Tarja, do romance A situação, do Jeff VanderMeer…
…e um singelo marcador de páginas.

Acontece que, nesse marcador, há um desafio literário bastante interessante para quem gosta de literatura fantástica.

Ele diz “Livros para viajar para outros mundos”, e traz a seguinte lista:

  • Um livro com uma aventura em alto–mar.
  • Um livro com animais falantes.
  • Um livro que se passe em diferentes reinos.
  • Um livro com criaturas mágicas.
  • Um livro com um dragão na capa.
  • Um livro em que foi criada uma nova língua.
  • Um livro com um portal para outro mundo.


Como podem ver, já dei um “check” no último item, porque estou lendo Deuses americanos, e, se você já o leu, deve certamente se lembrar d'O Maior Carrossel do Mundo :)

Para o item do dragão na capa, já tenho o candidato mais provável: Memória da água, da Emmi Itäranta… mas, para o resto, ainda há um mundo de possibilidades!

Prometo que falo sobre cada um deles, assim que os ler — e assim como os do outro desafio literário do ano.

terça-feira, 7 de março de 2017

Desafio literário Clube de Autores


Todos que me acompanham sabem que publiquei meu primeiro romance, O arquivo dos sonhos perdidos, pelo Clube de Autores — uma plataforma de autopublicação semelhante à Amazon, mas o que essa última faz com e–books, a primeira faz com livros impressos.

Acontece que, por não haver nessas plataformas o crivo de um editor, muita tranqueira é publicada. Talvez 90% de tudo o que é nelas publicado — ou até mais —, na verdade. Só que acontece, também, de acharmos pérolas no meio de tanta caca…

E é nesse sentido que lanço a mim mesmo o desafio Clube de Autores, para esse ano de 2017 :D

Vou, através desse desafio, comprar e avaliar, ao longo do ano, aqui no blog, 7 obras que me parecem promissoras, de diversos gêneros literários. Vou dedicar meu escasso tempo de leitura e meu precioso espaço na lista de leituras para essas obras, e depois dizer se atingiram ou não minhas expectativas.

São essas as obras (a ordem é meramente ilustrativa e não reflete, necessariamente, a ordem de compra ou leitura):


1. Teorema de Mabel, de Matheus Ferraz


Sinopse: Para Mabel, a chance de trabalhar como datilógrafa para o maior nome da literatura brasileira era inacreditável — justo ela, que sempre sonhara em ser uma grande escritora! Mas Milton Dantas agora não era mais do que uma criatura moribunda e incapaz de escrever uma linha sequer. Mabel decide seguir em frente e escrever o livro, mesmo que isso signifique perder sua sanidade. Mas por que teria sido ela escolhida para o trabalho? A resposta está na sua aparentemente inofensiva máquina de escrever, que esconde um segredo terrível.

Expectativa: Imagino ser uma obra mais voltada para o young adult, com toques do realismo mágico de Carlos Ruiz Zafón e sua trilogia O Cemitério dos Livros Esquecidos.

*

2. A eleição, de Rodrigues dos Santos


Sinopse: Ávido por poder, o prefeito carioca Fernando Leta entra em mais um ano eleitoral sedento por vitória. O desafio dessa vez é eleger um aliado para o governo do Estado, de forma a expandir sua influência para fora da cidade que governa, de olho em voos mais altos rumo a Brasília.

O que Fernando não sabia antes desse ano eleitoral é que seu sucesso político cobraria um preço muito alto da sua família. Comprometido com acordos políticos, alianças improváveis e cercado por pessoas que não pode confiar, Fernando precisa enfrentar seus adversários enquanto elege qual é sua verdadeira prioridade.

Expectativa: Me parece ser um drama interessante, se tiver sido bem escrito, já que parece ter a intenção de tratar dos nossos tempos. Talvez possa descambar para um thriller.

*

3. A última tribo, de Guilherme Pimenta


Sinopse: Em uma tribo isolada do mundo, Yxyry — perto de se tornar pai — vê sua família definhar com pouca comida e água escassa. Temendo por todos, ele começa uma jornada para desafiar seus deuses, cruzando uma fronteira proibida para seu povo: a Fenda do Mundo.

Nessa história emocionante, siga a jornada de um ser humano enfrentando o desconhecido para salvar seus entes queridos — e como este confronto pode mudar uma pessoa para sempre.

Expectativa: Não costumo me atrair muito para estórias tribais, indígenas, e coisas desse tipo… mas algo nessa sinopse me faz imaginar ter um “algo mais” aí. Espero uma aventura–pipoca de fantasia.

*

4. Vós sois máquinas, de Goulart Gomes



Sinopse: No futuro, um androide estabelece contato com uma inteligência de outra dimensão, provocando grandes transformações na sociedade.

Expectativa: Essa sinopse é a mais curta e a que mais me agradou — tanto que este foi o livro que descobri há mais tempo, antes mesmo de saber o que era o Clube de Autores. Além de ser ficção científica, meu gênero preferido.

*

5. Universo desconstruído: Ficção científica feminista vol. II, organizada por Lady Sybylla e Aline Valek


Sinopse: Segunda coletânea de ficção científica feminista brasileira. Oito autores e autores brasileiros, oito universos diferentes, desconstruindo mundos.

Expectativa: Já comprei e li a primeira coletânea da Sybylla e da Aline, e adorei. Muitos contos bons, alguns incríveis, então a expectativa para o segundo volume é alta.

*

6. Unicelular, de Tarsis Magellan


Sinopse: Rosa Villar, agente da ABIN, é chamada às pressas para investigar o envenenamento do filho de uma influente jornalista americana que estava de férias, numa das belas praia do Brasil. O que Rosa não imaginava é que o bem–estar da criança estaria ligado intimamente a membros do alto escalão da embaixada dos Estados Unidos. E, caso a cura não seja encontrada a tempo, problemas diplomáticos surgirão entre os dois países.

A agente tem fortes indícios de que a Biotech, uma grande empresa farmacêutica chinesa, está envolvida no incidente e comanda uma empreitada gigantesca no país. Isso a levará ao centro de controle da Biotech, na Ilha de Trindade.

Lá, Rosa será apresentada à Iniciativa Unicelular, um projeto que ela somente imaginou existir em histórias fantásticas. No entanto, ela sente que algo mais está à espreita, capaz de colocar não só a sua vida, mas a de todos em risco.

Envolta em uma teia de mentiras, conspirações, segredos corporativos e inúmeras mortes, Rosa deve descobrir os mistérios escondidos em um lugar onde não só o homem, mas também a natureza, serão seus piores inimigos.

Expectativa: Parece–me um thriller de ficção científica com toques de horror, bem no estilo dos jogos Resident evil e Parasite Eve… Já havia começado a ler o primeiro capítulo da obra no Wattpad, e a escrita do autor me agradou.

*

7. Zé Calabros na Terra dos Cornos, de Tiago Moreira


Sinopse: Entre a caatinga e o mar, a Cornália é uma terra hostil, governada por coronéis, ameaçada por cangaceiros e habitada por feras lendárias.

É uma época de terror. O Rei do Cangaço se ergue no leste, isolando a região e espalhando violência em sua cruzada sangrenta.

Porém, quando o errante Zé Calabros, cabra–macho do sertão, salva a vida de um náufrago misterioso, inicia–se uma travessia perigosa por essa terra fantástica.

No caminho, nossos heróis insólitos — e também você, leitor — encontrarão engenhos terríveis, feiticeiros poderosos, monstros selvagens e bandidos cruéis.

Esta é a jornada de Zé Calabros na Terra dos Cornos.

Expectativa: Essa é a obra mais recente dessa lista, em publicação e em descoberta — e é de longe, para mim, a mais curiosa. Fantasia numa versão do Sertão Nordestino, com uma capa muito divertida e um título muito engraçado? Podem ter certeza que as expectativas para esse livro estão altas :)

*

É isso aí! Está lançado o meu desafio a mim mesmo, hehe, e, caso vocês se interessem por alguma(s) dessas obras, o link para elas está no próprio nome, é só clicar e comprar :)

Sigamos prestigiando a literatura nacional, estando ela em editoras ou não ;)

* * *

Atualização em 10/04/17: Foi feita a substituição de uma das obras do desafio original, como relatado nessa postagem.

quinta-feira, 2 de março de 2017

#OPodcastÉDelas — Arita Souza

~Texto da escritora convidada Arita Souza, booktuber do canal Dobradinha Literária e podcaster do SpheraGeek, em apoio à campanha #OPodcastÉDelas, integrada por diversos produtores de conteúdo para a internet — como podcasters, bloggers e vloggers — nesse mês de março de 2017.~




“Mesmo onde existam muito ouro e pedras preciosas, os lábios que comunicam são mais valiosos que uma joia rara”


Vamos menina! Levante desse sofá, e mostre o seu valor!

Olá amigos, meu nome é Arita Souza, sou uma booktuber e me arrisco em algumas participações no podcast do SpheraGeek, com a equipe direcionada pelo amigo Thiago Simão.

Já digo com antecedência que falar sobre mulheres não é uma tarefa fácil, mesmo sendo eu, uma bela donzela de 37 aninhos (desculpe–me por usar o termo donzela. Sei que é um tanto antiquado visto que a nova moda é “bela, recatada e do lar”). 

Adoro ironias… kkk

Vou lhes contar uma historinha bem representativa:

“Um arqueólogo escavava uma ruína quando topou com uma velha lâmpada. Ao esfregá–la para tirar a poeira, apareceu um gênio. Você libertou–me!, disse o gênio. Vou lhe conceder um desejo. O arqueólogo pensou por um momento e respondeu: Quero uma ponte com uma autopista ligando a Inglaterra à França! O gênio revirou os olhos e resmungou: Eu acabo de sair da lâmpada, estou muito cansado. Faz ideia da distância que existe entre a França e a Inglaterra? É uma engenharia impossível! Faça outro pedido! O homem refletiu por um momento e pediu: Eu gostaria de poder me comunicar com as mulheres. O gênio empalideceu e perguntou: Serve uma ou duas pistas?” (PESASE, 2003:147)

Não quero chegar já metendo os “dois pés no peito” dizendo blá…blá…blá sobre o complexo mundo feminino, mesmo porque eu não acredito nisso, nessa história sobre empoderamento ou complexidade porque isso só faz com que a voz feminina deixe de ser ouvida por aí. Seríamos iguais a tantas coisas negativas que se falou sobre comunicação em geral ou mesmo sobre a comunicação entre homens e mulheres.

Acredito em ações, acredito em uma mulherada que está arrasando em participações nas multi–mídias por aí, inclusive nos casts dos meninos (diz aí, Galera do Rau, quando sai o meu convite? kkk)

Por falar nisso, você conhece o podcast? 

Lembra–se aquele bom e velho programa de rádio? 

Podcast é isso, um programa organizado que pode ser transmitido em áudio ou vídeo pela internet. Uma mídia bem simples, que te permite começar a trabalhar com um bom tema e um bom gravador. 

Nós chegamos lá e conquistamos esse espaço.

Mas será que a comunicação entre homens e mulheres flui bem? E se tratando de podcast ? A coisa acontece?

Alguns tabus foram quebrados e ganhamos espaço para debatermos sobre temas polêmicos como Star wars, Star trek, futebol e até sexualidade, imaginem vocês! 

Todo bom podcast tem em seu grupo mulheres fortes para a programação (e nem todas vão para falar sobre os 50 tons de rosa possíveis ou mesmo quanto custa o preço do trigo na gôndola do supermercado).

Mulheres dominam bem os tempos verbais com sua cortesia imposta pelas palavras mágicas como querer, dever, poder, as deixando no fim das contas, mulheres bem Imperativas. Já os homens, mesmo com seu gerundismo, continuam indo além das paredes das cavernas. 

Eu já imagino que, após esses comentários, meus créditos com você, leitor, quase chegue a zero. Não pense assim sobre a minha pessoa! A gente pode até perder o amigo mas a piada nunca morre. 

Pesquise os casts, valorize as meninas do clube.

Vamos juntos mudar a palavra! Eliminar diminutivos e eufemismos para deixarmos nossa marca nesse pequeno mundo paralelo da internet.