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domingo, 25 de junho de 2017

As Formigas, de Bernard Werber


.: Este é terceiro livro do Desafio Literário do Marcador de Páginas, de um total de 7 livros, e é o item “Um livro com animais falantes”! :.


Confesso que li As formigas sabendo o que dele esperar por causa de um erro que cometi no passado. Há alguns anos, encontrei um interessante volume num sebo intitulado A revolução das formigas; comprei–o e li… e só depois descobri se tratar do 3.º volume de uma trilogia. Pois é. A beleza de tudo é: isso não tirou nem um pouco do prazer da leitura, porque são meio que volumes independentes. Ou, ao menos, o é o terceiro, porque não li o segundo para saber. Então, para começar a sanar o erro, comprei o primeiro volume, do qual aqui vos falo.


As formigas tem duas linhas narrativas muito distintas, e muito interessantes. Em uma delas, uma família herda uma casa, de um tio cientista desaparecido, onde há um porão lacrado e um bilhete deixado dizendo claramente para não o abrirem de forma alguma… e é óbvio que, por isso mesmo, eles os abrem. A partir daí, todos que entram buraco abaixo desaparecem — o pai, a mãe, o filho, os bombeiros, os policiais…

Na outra narrativa, acompanhamos a vida das formigas da capital Bel–o–kan. Sim, a cidade tem nome. Descobrimos, nessa parte, que as formigas têm uma sociedade muito estruturada, trabalham e descansam, conversam sobre tudo (não através de sons, mas de feromônios, que são emitidos e captados através de suas antenas), e que também têm, apesar do forte senso de comunidade, individualidade e vontades próprias — inclusive de explorar o mundo e conhecer coisas novas. Acompanhamos as guerras desse povo, seus amores e aventuras sexuais (algumas bem bizarras, por sinal), suas traições, segredos e mistérios… e é aí que essa parte faz eco com a outra: esse livro, além de uma fantasia / ficção científica, é um romance policial e um thriller. Somando ao mistério dos humanos desaparecidos, há o das formigas com cheiro de rocha que estão tentando (e conseguindo) matar os protagonistas insetos do livro, infiltrados dentro de Bel–o–kan.

As formigas foi um romance tão gostoso de ler quanto o terceiro volume da trilogia. Claro que Bernard Werber não é o novo Victor Hugo da literatura moderna, mas sua prosa simples não se torna um ponto fraco justamente por causa de sua criatividade — especialmente ao intercalar, separando as cenas das formigas das dos humanos com inserções da Enciclopédia dos saberes relativo e absoluto, livro escrito pelo tio cientista desaparecido, que discorre sobre as diferenças e semelhanças entre as espécies dos humanos e das formigas, trazendo sempre reflexões muito pertinentes e inteligentes.

Merece cada décimo da nota 4 de 5 que eu dei no Skoob ;)

sábado, 10 de junho de 2017

Mundos paralelos, organizada por Felipe Sali


Todos que acompanham o blog sabem que eu sempre valorizo a literatura nacional — já fiz resenhas de livros físicos, e–books e, inclusive, contos do Wattpad. Qual foi a minha surpresa, então, quando vi a coletânea Mundos paralelos, em parceria da Mundo Estranho da editora Abril justamente com o site Wattpad, numa banca de revistas! É claro que comprei.


Nessa coletânea, o organizador Felipe Sali juntou autores famosos no Wattpad — que, todo mundo deve saber, é uma plataforma / rede social de escritores — e pediu–lhes que escrevessem um conto inédito para a obra. É claro que, justamente graças à proposta de ser também uma rede social, onde os “likes” contam muito (e aqui são votos), nem sempre os mais famosos são os que necessariamente escrevem melhor — o são, na verdade, aqueles que têm um maior engajamento com o seu público. Longe de mim dizer que todos os famosos escrevem mal ou que os que escrevem bem não são reconhecidos; só estou dizendo que essa acaba não sendo a regra da plataforma.

Assim sendo, comprei a coletânea justamente para avaliar isso: a qualidade dos autores selecionados e dos contos escritos… E já devo dizer que só confirmei o que imaginava: que abundam as boas ideias estragadas por más execuções, mas que haveria, claro, contos bons, apesar disso.

Para ser mais específico, vou fazer um breve comentário sobre cada um dos 10 contos. Espero não irritar ninguém, mas, se isso acontecer, paciência.

Caça e caçador, de Rô Mierling

De cara, já a confirmação do que eu temia: escrita quase amadora, ideia “inspirada” pela moda de distopias adolescentes — onde pessoas têm que se matar por causa do governo malvado —, personagens estereotipados e trama previsível. O final melhora um pouco a coisa toda, mas, ainda assim, merece uma nota 2 de 5.

Alegoria da caverna, do organizador Felipe Sali

Esse é melhor do que o primeiro. A escrita melhora, e a história é mais interessante, uma ficção científica que trabalha, como o título sugere, e a possibilidade de se contentar com ilusões agradáveis ao invés da dura realidade. É um bom conto, mas senti que faltou aquele tchan que fisga o leitor. Nota 3 de 5.

Sobrenatural, de Lilian Carmine

Esse conto me deixou com um sorriso no rosto! A escrita não é nada que se diga memorável, e é bem leve especialmente por narrar o ponto de vista de uma adolescente, mas a história de fantasia, além de tratar de uma coisa que sempre me deixa pensando — do tipo, “como seria se…” —, tem um finalzinho que realmente me pegou de surpresa. O conflito se resolve muito rápido para o meu gosto, mas tem referências legais. Nota 3,5 de 5.

Amigo de lata, de Aimee de Oliveira

Um conto bem interessante por causa da abordagem psicológica da ficção científica. Nesse ponto da leitura, eu estava pensando “nossa, colocaram os contos numa ordem de o pior para o melhor”, mas quem dera se fosse assim. A escrita de Aimee é boa, a trama se desenvolve numa boa velocidade e a relação da protagonista com o “amigo de lata” do título é gostosa de se ler — e o final é bom. Nota 3,5 de 5.

Perfeito problema, de Clara Savelli

Aí voltamos aos problemas do primeiro conto: escrita; trama inverossímil; distopia adolescente… só que ainda mais inverossímil e adolescente do que aquele. Não tem nem a salvação do final interessante. Nota 1,5 de 5.

Abbie, de Marcus Barcelos

Ao que tudo indica, esse conto diz–se de terror e trata de possessão por um espírito maligno. “Ao que tudo indica” porque eu desisti do conto no meio. Não que seja exatamente ruim; acontece que começa com uma escrita tão chatinha e tanto infodump para um conto curto que, honestamente, eu já não me interessava pelo que aconteceria antes mesmo que acontecesse. Só acho que, em um conto em que as coisas demoram a começar a acontecer, a escrita deve garantir a permanência do leitor. Nota 1 de 5.

Memórias perdidas, de Juliana Parrini

A ideia desse é legal — uma cientista que se torna cobaia do próprio experimento em prol da humanidade e acaba mudando de ideia por egoísmo. Acontece que faltou técnica para passar isso para o papel de maneira emocionante. Tudo acontece na ordem “certa”, digamos, mas o conto me pareceu meio como uma comida de restaurante popular — o tempero está lá, mas… falta algum cuidado na preparação. Nota 2,5 de 5.

Liberdade comprometida, de Thati Machado

Nesse conto, voltamos mais uma vez às distopias de governos malvados, mas aqui a autora, além de escrever melhor, traz uma visão mais interessante às coisas. Existe um questionamento válido às questões de cores de pele e classes sociais, e a mensagem que o conto passa não é rasa quanto a dos outros contos do mesmo gênero na coletânea. Nota 3 de 5. (Obs.: Só o sobrenome da personagem poderia ser melhor, né, dona autora? “Condon”, jura?)

Perpetuação, de Mila Wander

Outra distopia. Falar o quê, né? Está na moda mesmo. Outra coisa que está na moda é escrever no tempo verbal presente. Mas concordo que nenhum desses aspectos é um ponto negativo por si. O que os torna ainda mais maçantes é que não há muita coisa que ajude aqui — a trama, ou a escrita, ou os personagens, ou o conflito que se resolve de maneira rápida e boba… Nota 1,5 de 5.

Fragmentos, de Chris Salles

A trama desse conto é mais interessante — nela, a protagonista, ao contratar uma empresa de teletransporte, descobre que, na verdade, ao invés de levar uma pessoa do ponto A ao ponto B instantaneamente, eles criam uma cópia da pessoa no ponto B. Acontece que a boa premissa se perde num desenvolvimento confuso e apressado. Nota 2,5 de 5.


No final, então, a média é de 2,4, mas vou dar mais 0,5 pontinho por causa do projeto gráfico, que é lindo, com um verde–água muito bonito no miolo todo, e com uma ilustração para cada conto — mas é uma pena que não é só de projeto gráfico que vive a literatura. Faltou aqui um bom revisor — tanto nas questões de ortografia e gramática quanto nas de trama e verossimilhança das cenas —, e isso, infelizmente, reduziu muito a qualidade que a obra poderia ter. Nota final de 2,9 de 5.

Sinto muito, Wattpad, mas ainda não foi dessa vez que você me convenceu a dar atenção aos usuários que ostentam suas milhares de leituras.

¯\_(ツ)_/¯