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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Um trecho marcante de George Orwell


O Partido dizia que a Oceânia jamais fora aliada da Eurásia. Ele, Winston Smith, sabia que a Oceânia fora aliada da Eurásia não mais de quatro anos antes. Mas em que local existia esse conhecimento? Apenas em sua própria consciência que, de todo modo, em breve seria aniquilada. E se todos os outros aceitassem a mentira imposta pelo Partido — se todos os registros contassem a mesma história —, a mentira tornava–se história e virava verdade. “Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente controla o passado", rezava o lema do Partido. E com tudo isso o passado, mesmo com sua natureza alterável, jamais fora alterado. Tudo o que fosse verdade agora fora verdade desde sempre, a vida toda. Muito simples. O indivíduo só precisava obter uma série interminável de vitórias sobre a própria memória. “Controle da realidade", era a designação adotada. Em Novafala: “duplipensamento"."

George Orwell – 1984


segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Realidades Cabulosas: Ano 1


Que alegria ver a primeira coletânea que editei — com o meu amigo Lucas — virar realidade, após um ano de preparação e de cuidados...! Quando fui convidado pelo pessoal do Leitor Cabuloso via Lucas para ajudar com os contos, e dei a ideia de que aquelas histórias pudessem integrar uma coletânea, até, sinceramente, achei que a coisa não fosse virar. Que algo fosse, no meio do caminho, empacar. Já comecei muitos projetos legais que, por dependerem de outras pessoas, acabaram parando; no entanto, é muito bom ver esse dar certo em tantos níveis que é até difícil pôr em palavras o quanto ele me alegra.


Primeiro ponto que me traz satisfação: eu sinto que realmente estou fazendo algo pela literatura nacional. Revisando, ajudando a publicar contos com mais cuidado do que geralmente se vê por aí. Descobrindo bons autores e/ou boas histórias… Ajudando a abrir um espaço para os novos autores serem publicados, através da ajuda de um site maior, mais conhecido, de uma forma melhor do que eu poderia fazer sozinho.

Segundo: estou valorizando os contos — formato que eu amo. Histórias marcantes contadas de uma vez; porradas na cara; as melhores deixando um resíduo que dura, na mente e no coração. Entendo que certas histórias precisam de tempo para serem desenvolvidas, por isso precisam de mais palavras, mas com os contos pode-se realizar coisas novas, diferentes, mais malucas, mais rápidas, ou menos tradicionais, ou… bem, vocês entenderam.

Terceiro: O pontapé inicial no selo Cabuloso Livros, que, espero, vá ajudar a valorizar ainda mais a literatura nacional — com um destaque todo especial para o formato de histórias curtas.

Quarta alegria: Ter contado com a participação de dois autores convidados fantásticos, a Priscilla Matsumoto, autora do excelente Ball jointed Alice, e o Fábio Fernandes, grande autor de FC e de 3 livros que eu li só no ano passado — a nova versão de Os dias da peste, o ótimo livro de contos Interface com o vampiro, e o necessário De A a Z: Dicas para escritores. Além disso, ter tido escritores já de nome, como o J. M. Beraldo e o português Bruno Martins Soares, enviando contos para o site e consequentemente participando da coletânea.

Dentre outras alegrias, menores e inúmeras, ao longo do ano… Algumas decepções também ocorreram — como a de um autor que não autorizou que o conto entrasse na coletânea, e a capista que pulou fora aos 45 do segundo tempo —, mas o saldo com certeza foi muito mais que positivo!

Introdução (longa…) feita, vamos falar sobre cada um dos contos!


1. Memento mori com Fernet, de Michel Peres

Uma das melhores surpresas de contos recebidos, e possivelmente o melhor conto de ficção científica que li em 2017. Conta a história de Mariana, uma especialista em “cultivar tecidos" — uma tecnologia nova —, e de quando ela conhece Charlotte, uma artista vinda de outro país para mexer com sua vida. Além da escrita ótima, fluida, sem firulas ou vontade de se mostrar por parte do autor, a trama é inovadora, segue caminhos inesperados e apresenta um futuro criativo e visionário. Destaque também para o divertido androide André, o Andréoide.

2. Onironauta, de J. M. Beraldo

Um conto de fantasia do premiado autor de Império de Diamante e sua continuação, Último Refúgio, que saíram pela editora Draco e, no caso do primeiro, ganhou o prêmio Argos. Esse conto se passa no mesmo universo de ambos os romances, e apresenta a personagem Vema, uma onironauta — alguém que viaja pelos sonhos — que tem um trabalho a fazer. Ótimo conto, curto e direto. Deixou a vontade de entrar em seu universo dos Reinos Eternos (e o farei em breve).

3. Eva & Morte, de Joe de Lima

Esse conto de fantasia apresenta uma trama que leva a um plot twist ótimo, e falamos disso — eu, o Lucas e o Matheus Salfir — em um episódio do podcast SobrEscrever. Tem um ritmo bom, foge dos clichês do personagem Morte e, o que percebo só agora, podem rir, é que é o terceiro seguido com uma protagonista do sexo feminino seguido. (O próximo também, haha, que editor de merda eu sou :P)

4. Ziggy Stardust, de Magdiel Araújo

Pensem num conto divertido! Aqui, somos apresentados à “zumbí" Ziggy Stardust, a primeira (de acordo com o seu conhecimento) a ter consciência, saber falar, ler e escrever! E é isso o que ela faz: escreve um diário contando suas desventuras e descobertas. Excelente conto! Vão ler!

5. Defenestrada, de Sonia R. R. Rodrigues

O primeiro conto policial da coletânea. E um dos maiores, justificadamente, para desenvolver a trama. Contudo, não é maçante em momento nenhum, e o ritmo da investigação e das descobertas por parte do detetive Bernardo é muito bem montado, resultando assim num conto inteligente e bastante atual.

6. Nas nuvens, de Fábio Fernandes

Eis o primeiro conto de autor convidado — uma FC também atualíssima, que trata do extremismo conservador para o qual nosso país parece estar se encaminhando. Um bom conto, que usa um elemento que adoro: referências musicais. Aconselho, inclusive, a buscarem as músicas apresentadas no conto, porque valem a pena.

7. Houston, de Bruno Martins Soares

Outro conto divertido e de FC. Não há, nele, uma trama propriamente dita, mas uma extrapolação surrealista sobre um incidente matematicamente possível (ou impossível?). Também há referências para quem as souber encontrar. A escrita do autor é ótima, como se pode também conferir em seus contos na Amazon, em e–book.

8. Ninho do Corvo, de Luis Henrique da Cunha

Um conto de ficção histórica, que pode ser de fantasia ou não, dependendo da interpretação do leitor. O final desse também é interessantíssimo, e o que parece clichê com certeza não é. Muito bem executado.

9. Pat Coelha contra o Porco, de Evelyn E. Postali

Um conto de fantasia divertidíssimo! Eu, ao menos, achei. Apresenta um mundo interessantíssimo, cheio de vida, com background, personagens interessantes, num espaço de tempo curtíssimo, ágil e com personalidade. Ótimo conto.

10. Os presbíteros de São Luís e o santo suicida, de Luís H. Beber

Esse é um conto nonsense, que sei que dividirá opiniões, mas eu, particularmente, considero–o um dos melhores da coletânea. Cheio de referências, de becos sem saída, de informações aleatórias, e ainda assim que constrói trama, dá passado aos personagens, tem humor refinado, críticas ácidas e confunde explicando. Tão bom quanto lê–lo é relê–lo.

11. Cor viva, de Adriana Rodrigues

Outro conto de literatura realista, mas dessa vez mais intimista. Apresenta uma personagem que tem que achar um sentido em continuar após a perda de alguém importante. Muito bem escrito, com um tom até opressor. Bem bom e bem forte.

12. Filosofia trágica, de Matheus Salfir

Mais um conto policial, mas dessa vez constituído inteiramente por diálogos. Quando recebemos o conto, demos uma ideia ao autor: já que não há nenhum tipo de narração ou mesmo verbo dicendi, por que não remover as pontuações de diálogo...? Ele removeu, gostou e assim ficou. Além disso, traz interessantes reflexões filosóficas, e um personagem em alta nos dias de hoje: aquele que se aproveita da credulidade dos outros.

13. A filha do Sol e da Lua, de João Paulo Effting

Um conto interessante de fantasia, de temática indígena, de certa forma até pouco comum na produção nacional, mas que tem tido mais representação ultimamente. Mostra a história da personagem Inca–Mair, desde criança diferente dentre os da sua tribo.

14. A verdade é apenas uma, de Priscilla Matsumoto

Este é um conto curioso. Intimista, e digo que é curioso porque me parece que pode encarado tanto como ficção realista quanto ficção científica, com realidades alternativas que podem ser físicas ou simplesmente sonhadas, imaginadas, esperadas. Um conto muito bom, mas que, a meu ver, exige mais de uma leitura para ser absorvido em totalidade (e não que isso seja ruim, claro).

15. Um café e o fim do mundo, por favor, de Rafael Peregrino

Um conto de terror, o primeiro a dar as caras na coletânea, mas um terror psicológico, de inspiração lovecraftiana e meio nojento, haha — mas ainda assim muito divertido. Na verdade, o título é o desejo antigo de muita gente :P Além disso, o conto tem um ritmo muito gostoso de ler.

16. Quantos, de Daniel dos Santos Soares

Outro conto realista e intimista. Confesso de me fez lacrimejar, haha. Muito bonito, e tem uma estrutura muito interessante, intercalando pontos de vista de forma ágil até que tudo faz sentido e se junta no final. Hoje, relendo, eu não me emociono tanto, mas talvez no dia da primeira leitura eu estivesse no mood certo para ser tão atingido.

17. Saco de vermes, de Priscilla Rúbia

O segundo conto de terror da coletânea, e que traz de volta uma lenda urbana bem brasileira, e que, ao meu ver, estava meio esquecido dentre todas as figuras do nosso rico folclore, seja urbano ou rural. Traz uma sociedade distópica — mas não impossível em seu aspecto político, dado o rumo das coisas —, e um casal terrível, daqueles que, como se diz por aqui, é melhor perder do que achar.

18. Um jeito de arrumar as coisas, de Lucas Rafael Ferraz

E finalmente os contos dos organizadores — porque, depois de tanto trampo, nós merecemos, né? O conto do Lucas é facilmente encaixável em qualquer temporada de Black mirror, e parece muito próximo de nossa própria realidade. Traz uma reflexão também validíssima em nossa sociedade, a respeito das relações interpessoais e das “bolhas" em que vivemos.

19. Enquanto vagueio pelas cinzas do mundo, de eu mesmo :)

E, para encerrar, o meu conto. É uma ficção fantástica, e me surgiu no formato de um questionamento: e se uma pessoa fosse sumindo aos poucos? Tipo, primeiro perdendo objetos, depois momentos, depois todo o resto...? Então, escolhi a pobre protagonista Nicole para encenar essa tragédia. Ela deve estar por aí, ainda; você é que não lembra dela. Ah, e, como curiosidade, pesquise o título no Google; vale a pena ;)


Enfim; creio que foi um trabalho bem–feito, publicado com honestidade — nenhum valor foi cobrado, de ninguém, e a versão em e–book é de download gratuito, aqui, e a versão física, que pode ser comprada aqui, custou só o que o Clube de Autores cobrou, como pode ser visto nesse print screen da tela de direitos autorais:


O negócio, agora, é começar a trabalhar no Ano 2 das realidades cabulosas, primeiro no Leitor Cabuloso, depois na coletânea, e partir para voos maiores — aguardem mais novidades sobre o Cabuloso Livros, que não perdem por esperar!

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Retrospectiva Literária 2017


E, seguindo a tradição do blog, chegamos ao fim de mais um ano de leituras e escritas — e trago a vocês a Retrospectiva Literária do ano de 2017 :D

Em 2016 inaugurei maisoumenasmente a seção com as minhas obras lançadas — foi o ano em que eu deixei de ser somente um leitor e passei a ser um autor publicado. Agora oficializo: começarei sempre com as minhas obras lançadas no ano! Nesse, foram nada menos que cinco! E bem balanceadas em seus gêneros: duas de ficção realista — o romance Nefelibata ou O fotógrafo, e o conto Apreensão, que saiu pela revista Gueto e foi premiado na 27.ª edição do Prêmio Cataratas de Contos e Poesias —; uma de ficção científica — o conto Sob a sua árvore —; e duas de fantasia — os contos que saíram nas coletâneas dos sites Mitografias e Leitor Cabuloso, respectivamente E tudo vai ficar pior e Enquanto vagueio pelas cinzas do mundo.






No campo da leitura, eu também não poderia ter tido um ano mais feliz, porque eu simplesmente bati meu recorde de leitura anual de toda a minha vida! Foram 68 obras lidas — e, com toda a tranquilidade, afirmo que isso só foi possível por causa da aquisição do meu Kindle (primeiro, o básico; depois, o Paperwhite). Ele me possibilitou ler muito mais do que as possibilidades de carregar livros de papel permitiam, além de também me dar acesso a ótimas obras autopublicadas, inexistentes em formato físico. Assim sendo, vamos à lista das leituras de 2017:

  1. A Voz de Delirium: Ano 1, de André Monsev & Lucas Kircher;
  2. Ozob: Protocolo Molotov, de Leonel Caldela & Deive Pazos;
  3. Alerta de risco: Contos e perturbações,
  4. Deuses americanos (releitura), e
  5. Mitologia nórdica, de Neil Gaiman;
  6. Sinal e ruído, de Neil Gaiman & Dave McKean;
  7. Contos da taberna, e
  8. 2001: Uma odisseia no espaço, de Arthur C. Clarke;
  9. O vermelho e o negro, de Stendhal;
  10. O risonho cavalo do príncipe, e
  11. A estranha máquina extraviada, de José J. Veiga;
  12. O encontro marcado, de Fernando Sabino;
  13. Interface com o vampiro,
  14. Os dias da peste vol. 1, e
  15. De A a Z: Dicas para escritores, de Fábio Fernandes;
  16. Mundos paralelos, organizada por Felipe Sali;
  17. Zé Calabros na terra dos cornos, de Tiago Moreira;
  18. Memória da água, de Emmi Itäranta;
  19. Ficção de polpa vol. 1, organizada por Samir Machado de Machado;
  20. A hora e vez de Augusto Matraga, de João Guimarães Rosa;
  21. Um gato chamado Borges, de Vilto Reis;
  22. Areia nos dentes, de Antônio Xerxenesky;
  23. Mulheres fatais, organizada por Rô Mierling;
  24. Melhor seria nunca ter existido, de Daniel Pellizzari;
  25. A Torre Negra vol. IV: Mago e vidro, e
  26. Sobre a escrita, de Stephen King;
  27. Memorial do convento, de José Saramago;
  28. Extemporâneo, e
  29. Glamour, de Alexey Dodsworth;
  30. O império das formigas vol. 1: As formigas, de Bernard Werber;
  31. Teorema de Mabel, de Matheus Ferraz;
  32. Ouça a canção do vento / Pinball, 1973,
  33. Caçando carneiros, e
  34. Minha querida Sputnik, de Haruki Murakami;
  35. Louco: Fuga, de Rogério Coelho;
  36. The 42nd Street Band, de Renato Russo;
  37. O mago e o guerreiro, de Diogo Ramos;
  38. Wild cards vol. 1: O começo de tudo, editada e organizada por George R. R. Martin;
  39. Antologia Mitografias vol. 1: Mitos modernos, organizada por Leonardo Tremeschin, Andriolli Costa & Lucas Rafael Ferraz;
  40. Unicelular, de Tarsis Magellan;
  41. Orgulho e preconceito, de Jane Austen;
  42. Limbo, de Thiago d'Evecque;
  43. Picta mundi, de Gleice Couto;
  44. O jardim secreto, de Frances Hodgson Burnett;
  45. Na eternidade sempre é domingo, de Santiago Santos;
  46. A menina submersa, de Caitlín R. Kiernan;
  47. Sandokan & Bakunine, de Bruno Margo;
  48. A situação, de Jeff VanderMeer;
  49. Lobo de rua, de Jana P. Bianchi;
  50. As águas–vivas não sabem de si, de Aline Valek;
  51. Alétheia, de Soraya Coelho;
  52. O zen e a arte da escrita, de Ray Bradbury;
  53. Trabalho honesto, de Rodrigo van Kampen;
  54. O espadachim de carvão e as pontes de Puzur, de Affonso Solano;
  55. Origem, de Dan Brown;
  56. Realidades cabulosas: Ano 1, organizada por Lucas Rafael Ferraz & eu;
  57. Um berço de heras, de Anna Fagundes Martino;
  58. Welcome to Night Vale, de Joseph Fink & Jeffrey Cranor;
  59. As vantagens de ser invisível, de Stephen Chbosky;
  60. Os cem melhores contos brasileiros do século, organizada por Italo Moriconi;
  61. revista Trasgo #04,
  62. revista Trasgo #07,
  63. revista Trasgo #09,
  64. revista Trasgo #11,
  65. revista Trasgo #12,
  66. revista Trasgo #13,
  67. revista Trasgo #14, e
  68. revista Trasgo #15, organizadas e editadas por Rodrigo van Kampen.
Então, sem perda de tempo, vamos às premiações do ano :D


O MELHOR LIVRO INTERNACIONAL DE 2017


Nossa, é impressionante como li poucos livros internacionais nesse ano...! Assim sendo, tive que decidir por uma releitura para ganhar esse prêmio — porque Deuses americanos é mesmo um livro muito muito foda; acho que é, afinal, o melhor do Neil Gaiman. Essa nova edição, então, é um primor: a textura da capa, a fonte utilizada, a nova tradução... Não tem como não amar :)


O MELHOR LIVRO NACIONAL DE 2017:


Rapaz, com tantas leituras nacionais nesse ano, foi difícil pra caramba escolher o “melhor"... Obras excelentes como Zé Calabros na terra dos cornos, Extemporâneo, Glamour e A Voz de Delirium: Ano 1 me deram dor de cabeça para escolher, então acabei me decidindo pela obra que mais mexeu com minhas emoções: Unicelular — tanto no deliciamento pela imersão no ambiente criado pelo autor, Tarsis Magellan, quanto no nervoso que me deu o desenrolar desse thriller de ficção científica, quanto pelo encantamento que me causou uma obra autopublicada tão esmerada quanto essa.


Partimos, então, para os destaques por gênero, excluindo–se as obras já premiadas.


O DESTAQUE DE FICÇÃO CIENTÍFICA DE 2017:


É difícil ter lido Alexey Dodsworth e não colocá–lo numa lista de “melhores do ano". Não li um livro dele que não tenha sido, no mínimo, ótimo — seja por uma editora, seja por outra, seja autopublicado. Extemporâneo é outra de suas obras ótimas, e acredito que meio central em sua produção, porque parece amarrar muitas das coisas escritas por ele. Em resumo, é um ótimo livro para começar a ler sua obra.

Como menção honrosa, o ótimo — e climático, e melancólico — Memória da água, que apresenta um futuro distópico original e incômodo pra cacete, onde a China domina o mundo e a água está cada vez mais escassa, controlada pelo governo, como não poderia deixar de ser.


O DESTAQUE DE FICÇÃO FANTÁSTICA DE 2017:


2017 foi o ano da autopublicação, e os destaques dessa categoria refletem isso. Zé Calabros na terra dos cornos é uma obra originalíssima de fantasia que se passa em uma terra que é uma versão do Nordeste brasileiro, com cangaceiros, coronéis e tudo o que a região tem direito. Contudo, ela integra outros elementos de outras culturas, como magos, dragões e gigantes, mas faz isso com muita naturalidade e com muita qualidade literária. É uma obra que tem tudo para despontar se — quando — for descoberta por uma editora grande. Estou ansioso pela continuação.

A menção honrosa é para outra ótima obra de Alexey Dodsworth, Glamour, dessa vez mais voltada para a fantasia urbana do que para a FC. Também integrada ao “Dodsverso", traz de volta a melhor personagem de Extemporâneo, a Cassandra.


O DESTAQUE DE FICÇÃO REALISTA OU REALISMO MÁGICO DE 2017:


Curiosa essa escolha. Murakami é um dos meus autores preferidos atualmente, e num ano em que li duas das maiores obras dele — Caçando carneiros e Minha querida Sputnik —, escolher justamente suas duas novelas de estreia e, ainda por cima, como menção honrosa... É que As vantagens de ser invisível é tão redondinho, tão bem escrito, tão gostosinho que, como, digamos, conjunto da obra, que não teve como não escolhê–lo como destaque. Além disso, Ouça a canção do vento / Pinball, 1973 tem um apelo muito mais emocional para mim do que suas obras mais famosas.


E, agora, A SURPRESA DO ANO DE 2017:


Duas obras nacionais como surpresas do ano! A obra em destaque, Ozob vol. 1: Protocolo Molotov, me surpreendeu de verdade. Claro que o autor principal da obra, Leonel Caldela, é o meu preferido autor de fantasia nacional, mas por ser uma derivação do Nerdcast especial de RPG, imaginei que pudesse seguir o exemplo da série Ruff Ghanor e ser dispensável como ela, mas acabei percebendo, com muita felicidade, que não, que o livro do Ozob tem muita qualidade como literatura cyberpunk, desde que você saiba ligar o quesefodômetro e curtir as loucuras e referências da aventura criada pelo Deive Pazos, o Azaghal.

Como menção honrosa, a ótima obra de fantasia urbana com toques de ficção científica Trabalho honesto, do Rodrigo van Kampen, criador e responsável pela excelente revista Trasgo, e aqui mostrando que é também um ótimo escritor e criador de mundos.


E então a inevitável DECEPÇÃO DO ANO DE 2017:


Nunca imaginei que eu teria Gaiman como a decepção do ano e King como menção honrosa, mas o monstro da expectativa é mesmo uma merda, né? Eu esperava que Mitologia nórdica fosse um livro do Neil Gaiman, mas não é: poderia ter sido o livro de qualquer escritor reescrevendo, muito mais que recontando, as histórias já conhecidas dessa mitologia, e nada mais do que isso. Sem surpresas, sem novidades, sem o jeitinho Gaiman de contar. Foi o primeiro livro dele que abandonei na vida. Já o Mago e vidro, volume 4 de A Torre Negra, poderia ter sido um livro bem menos maçante se o flashback fosse menos que praticamente o livro inteiro. Sério, devem ser umas 400 páginas ou mais de flashback — ou seja: uma história da qual já sabemos o final. Se Roland tivesse contado, como fez, a história ao redor de uma fogueira, num momento crucial do livro, mas em diálogo, teria tido o mesmíssimo efeito.


Agora, O PIOR LIVRO DO ANO DE 2017:


Não foi dessa vez que os escritores top do Wattpad me convenceram, pelos motivos que eu expliquei muito bem nessa resenha. O outro, também uma coletânea de contos, também é fraquinho, e esse eu nem me motivei a ler até o final.


Agora, falando de coisa boa, O MELHOR LIVRO DE CONTOS DE 2017:


É inevitável escolher essa fantástica antologia organizada pelo Italo Moriconi com os cem melhores contos brasileiros do século XX; realmente é de se imaginar que o sumo da literatura mainstream está ali. Não estão muitos bons contos da ficção fantástica, é claro, mas não era esse o foco da seleção. Como menção honrosa, mais uma excelente antologia do Neil Gaiman. Smoke and mirrors esteve na premiação do ano passado, Alerta de risco está nesse, e aposto que no ano em que houver antologia nova estará também :)


Então, dentre esses, vou formular O TOP 10 DE 2017:


  1. Deuses americanos, de Neil Gaiman
  2. Unicelular, de Tarsis Magellan
  3. Os cem melhores contos brasileiros do século, organizado por Italo Moriconi
  4. Zé Calabros na terra dos cornos, de Tiago Moreira
  5. Extemporâneo, de Alexey Dodsworth
  6. Alerta de risco: Contos e perturbações, de Neil Gaiman
  7. Glamour, de Alexey Dodsworth
  8. As vantagens de ser invisível, de Stephen Chbosky
  9. Ouça a canção do vento / Pinball, 1973, de Haruki Murakami
  10. Ozob vol. 1: Protocolo Molotov, de Leonel Caldela & Deive Pazos


Mas como assim, Rahmati, Ozob é melhor do que Orgulho e preconceito, ou os livros do Murakami, ou que tantos outros lidos nesse ano?! A questão é: eu não disse que esses livros são ruins. Muito menos que não são bons. São ótimos. O negócio é que esses 10 aí são os livros que mais me divertiram, dado o que eu gosto de ler. Se perguntarem qual é melhor: Ozob ou Orgulho e preconceito, eu vou dizer que certamente o segundo é literariamente mais relevante, e provavelmente muito melhor, mas o livro capa dura que está na minha estante é o primeiro :)

Assim sendo, se você não concorda com minhas escolhas, azar o seu e feliz 2018 :D