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sábado, 13 de dezembro de 2014

Um trecho marcante de Dean Koontz


É possível ludibriar Deus sem problemas, dizia vovó, se você souber usar seu charme e sua inteligência. Se você conduzir sua vida com imaginação e entusiasmo, Deus lhe dará o que você pede só para ver se seu próximo desatino será tão divertido.
Ele também não é tão severo quando se é idiota de maneira divertida. Vovó dizia que isso explica porque incontáveis milhões de pessoas, absurdamente estúpidas, conduzem tão bem a vida.

Dean Koontz - Odd Thomas


domingo, 7 de dezembro de 2014

Isaac Asimov prevendo o impacto da Internet


Como não admirar um gênio desses, capaz de tais reflexões? Parece realmente que ele é um viajante do tempo, que voltou ao passado só para contar como eram as coisas por aqui...

Isaac Asimov é foda. É, porque é eterno.



A Torre Negra vol. 2: A escolha dos três, de Stephen King


Conquistei mais uma etapa de minha jornada em direção à Torre Negra! E com a ajuda de Roland, Eddie e Susannah. Que personagens...!

O Sr. King cria personagens como ninguém, não é? É impressionante a verossimilhança mesmo de seus coadjuvantes, e também como seus principais conseguem nos cativar, nos impactar e nos emocionar.

Além de (acho) nem precisar dizer o quanto a trama dessa obra foge de qualquer clichê esperado ou semelhança a alguma história previamente contada. Em A escolha dos três, mundos se fundem da maneira mais inesperada possível, e algumas respostas a perguntas do volume 1 são dadas... Mas podem ter certeza de que muitas mais indagações surgem no horizonte.

E algumas dessas indagações, estou certo, podem ser ainda mais terríveis que meros Chum? Chac? Chic?...



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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Um trecho marcante de Rubem Fonseca #2


Não dou muita bola para essa coisa de natureza, prefiro rua, casas, gente andando nas calçadas para lá e para cá, carros trafegando no asfalto, mas tem duas coisas que eu gosto: árvore e pôr do sol. Nascer do sol, também. Mas o problema do nascer do sol é que ele só é interessante durante poucos momentos. Minha mãe gostava de ópera, um dos seus cantores favoritos era o Enrico Caruso e ela gosta particularmente da matinata L'Aurora di Bianco Vestita, de Leoncavallo. Nessa música está dito o problema da aurora. Ela só é agradável de contemplar quando o sol, uma rutilante esfera vermelha, vai surgindo no horizonte, isso dura poucos minutos, logo em seguida a bola vermelha se torna em uma brutal fonte de luz branca, apoteótica, impossível de contemplar. É isso: quando a aurora se apresenta de bianco vestita ela fica muito bonita na música de Leoncavallo e na voz de Caruso, mas na vida real fica insuportável. Ao contrário, o pôr do sol vai ganhando beleza continuamente, como no poema de Keats a thing of beauty is a joy forever, its loveliness increases, como aquela beleza que eu estava contemplando, o pôr do sol, que nunca agride, a menos que considere uma forma de agressão a melancolia que invade você na hora em que o crepúsculo se instala no mundo antecedendo a noite.

Rubem Fonseca - O seminarista


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Uma safra de grandes autores nacionais


Quem me conhece sabe que eu sou um grande entusiasta da literatura fantástica nacional, e, para quem não me conhece, muito prazer, esse sou eu.

Falo bem da produção nacional para quem quiser ouvir (às vezes até para quem não quer), e sempre posto coisas boas relativas a eles, sempre pensando em como posso fazer minha pequena parte para que eles atinjam um público maior. Sei que meu alcance ainda é pequeno, mas nunca poderão me julgar — eu nunca poderei me julgar — de não ter feito a minha parte.

Assim sendo, vou listar os grandes livros que li desses cada vez melhores autores nacionais. Vai que o você se interessa pelo título, pela sinopse ou pelas resenhas no Skoob, linkadas em cada título, e dá um apoio a mais para nossos autores...?

Os melhores livros, então, que li, seja nos gêneros de ficção fantástica (FF), ficção científica (FC) e terror/horror (TH) são:

  • Dezoito de Escorpião, de Alexey Dodsworth. Só o melhor livro de FC nacional, simples assim. Alterações genéticas, mistérios, ciência a nível hard, gatos desequilibrados, assassinos seriais e vilas misteriosas onde as sombras não mostram exatamente o que deveriam mostrar...
  • Filhos do fim do mundo, de Fábio Barreto. Uma ótima FF. Num belo dia (ou nem tão belo assim), todas as crianças recém-nascidas do mundo morrem, e as que estão nascendo não sobrevivem. Poderia um simples jornalista fazer algo para ajudar — algo que não fosse apenas ficar parado vendo os outros agirem...?
  • Menino de asas, de Homero Homem. Aposto que dessa FF muita gente se lembra, da coleção Vagalume. Uma história tocante de uma criança que nasceu com asas ao invés de braços, e os surpreendentemente sérios desdobramentos que isso acarreta em sua vida.
  • O vampiro que descobriu o Brasil, de Ivan Jaf. FF que mostra um vampiro português que veio junto aos "descobridores" do Brasil, procurando o imortal que o transformou para matá-lo e retomar sua mortalidade. Muito legal mesmo.
  • Rio 2054: Os filhos da revolução, de Jorge Lourenço. Outra excelente FC, aventuresca, futurista e realmente encantadora, mostrando um jovem da ala desfavorecida do Rio, enquanto ele descobre uma androide especial, habilidades que ele não esperava ter... e a quantidade de pessoas que passam a querer usá-lo por isso.
  • O inimigo do mundo, de Leonel Caldela. Escolhi esse livro para falar ao invés do mais famoso dele (O código élfico) porque, na minha humilde opinião, é o melhor livro de FF já escrito no Brasil. É a introdução mais perfeita ao mundo de Arton, mostrando o que causou a tempestade mortal e infernal chamada de Tormenta, que assola (e destrói) meio mundo, muitos anos antes das aventuras mostradas nos quadrinhos de Holy Avenger.
  • Blecaute, de Marcelo Rubens Paiva. Uma ótima FF, vitoriosa em um tempo em que essas histórias não faziam sucesso no Brasil. Três amigos têm a sorte (ou o azar) de escapar de um cataclismo global que mata...? — não se pode dizer, apenas parece paralisar... ou congelar... — todas as outras pessoas do mundo.
  • Anjo: A face do mal, de Nelson Magrini. Uma aventura de FF, puxada para o TH, onde forças do bem e do mal (e de todas as religiões/frentes que se pode imaginar) se confrontam de uma vez por todas... ou não. Muito legal mesmo.
  • Dragões de éter: Caçadores de bruxas, de Raphael Draccon. Essa FF não precisa nem apresentar. Uma ótima — e surpreendente — releitura dos contos de fadas, e de muito mais do que isso... Um mundo onde tudo o que um dia foi sonhado está presente.








sábado, 15 de novembro de 2014

Um trecho marcante de Roberto Bolaño


A menção a Trakl fez Amalfitano pensar, enquanto dava uma aula de forma totalmente automática, numa farmácia que ficava perto de sua casa em Barcelona e a que costumava ir quando precisava de um remédio para Rosa. Um dos balconistas era um farmacêutico quase adolescente, extremamente magro e de óculos grandes, que de noite, quando a farmácia estava de plantão, sempre lia um livro. Uma noite Amalfitano perguntou a ele, para dizer alguma coisa enquanto o jovem procurava nas prateleiras, de que livros gostava e que livro era o que estava lendo naquele momento. O farmacêutico respondeu, sem se virar, que gostava de livros do tipo A metamorfose, Bartleby, Um coração simples, Um conto de Natal. Depois disse que estava lendo Bonequinha de luxo, de Capote. Sem considerar que Um coração simples e Um conto de Natal eram, como o nome deste último indicavam, contos e não livros, era revelador o gosto daquele jovem farmacêutico ilustrado, que talvez em outra vida tenha sido Trakl ou que nesta talvez ainda lhe estivesse reservado escrever poemas tão desesperados quanto seu distante colega austríaco, que preferia claramente, sem discussão, a obra menor à maior. Escolhia A metamorfose em vez de O processo, escolhia Bartleby em vez de Moby Dick, escolhia Um coração simples em vez de Bouvard e Pécuchet, e Um conto de Natal em vez de Um conto de duas cidades ou de As aventuras do sr. Pickwick. Que triste paradoxo, pensou Amalfitano. Nem mais os farmacêuticos ilustrados se atrevem a grandes obras, imperfeitas, torrenciais, as que abrem caminhos no desconhecido. Escolhem os exercícios perfeitos dos grandes mestres. Ou o que dá na mesma: querem ver os grandes mestres em sessões de treino de esgrima, mas não querem saber dos combates de verdade, nos quais os grandes mestres lutam contra aquilo, esse aquilo que atemoriza a todos nós, esse aquilo que acovarda e põe na defensiva, e há sangue e ferimentos mortais e fetidez.

Roberto Bolaño - 2666, 2004


terça-feira, 11 de novembro de 2014

A Torre Negra vol. 1: O pistoleiro, de Stephen King


O volume 1 d'A Torre Negra me surpreendeu, de verdade. Talvez influenciado pela introdução do próprio Stephen King, eu tenha imaginado que, sim, a série fosse excelente, isso seria inegável, mas que o primeiro volume não fosse assim lá essas coisas... E como eu me enganei.

Após, de fato, a leitura de Christine, eu pude mesmo perceber, de acordo com o que ele fala na introdução, que sua escrita ainda não havia atingido o "nível Stephen King" a que estamos acostumados — e, curiosamente, percebe-se a melhoria desse estilo no decorrer do próprio livro, como também percebemos em obras trabalhadas por muito tempo de autores iniciantes. Os adjetivos e advérbios, abundantes de início, aos poucos vão sumindo, e a obra se torna mais precisa, mais concisa, mais direta. Não sei se por causa desse estranhamento no estilo eu tenha reforçado a impressão inicial de que O pistoleiro valesse apenas como uma introdução mesmo à Torre, mas, realmente, no final do livro, ele mostra a que veio e que, sim, ele se sustenta como um ótimo livro por si só. O diálogo final (não posso dizer entre quem) é pouca coisa menos que arrebatador, encantador, épico. Por ele se percebe que terão realmente valor todos os 33 anos gastos por King em escrever a série, e que valeria a pena, inclusive, esperar mais 33 anos para terminar de lê-la. Ainda bem que não precisamos, hehe.

N'O pistoleiro, podemos ver a Torre se erguendo, não rumo aos céus, mas rumo ao Universo, assim como podemos perceber que a jornada de Roland será, provavelmente, uma das coisas mais recompensadoras que poderemos encontrar na literatura deste nosso pequeno mundo de grão de areia.


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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Desenhos #5


Um desenho que eu gosto muito, antigo também, como todos aqui o são... Já faz muito tempo que não pratico...


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

E se fosse real a "nova reforma ortográfica"?


Motivado por um episódio do CabulosoCast — o episódio #98 —, eu me inspirei para criar um texto escrito da forma em que passaria a ser a nova ortografia da língua portuguesa se fossem adotadas as delirantes mudanças sugeridas nesse boato que circulou pela internet. Esse texto foi citado no episódio #104 desse mesmo podcast, e agora o apresento aqui na íntegra:

Talves ese testo lle kauze alguma estrañeza. Em meu tempo, kontudo, ele está plenamente de akordo kom as hegras gramatikais vijentes. Sei ter avido alguma komosão kuando esas hegras foram aprovadas — oje em dia bastante minimizadas nos livros de istória, komo todas as hevoltas o são — mas, de kualker forma, a grande Akademia Brazileira de Letras, q jerensia nosa língua mãe, já não enfrenta problemas em helasão a tal kestão, bem absorvida pela sosiedade. No entanto, sei q os livros de istória estão ehados. Ouve, sim, uma hevolta sangrenta, imprevista (klaro!) e súbta, não dos “defensores da língua” versus os “hevolusionários”, mas sim entre os profesores (inisialmente apenas os tradisionalistas, mas logo ausiliados por todos os outros kuando as koizas fikaram feias) kontra muintos alunos q viram niso uma xanse de mudar o sistema vijente — e, grasas aos séus, devo dizer, não foram bem susedidos. (A koiza healmente deskambou para a sanginolênsia kuando outros setores da sosiedade entraram no konflito, mas não tratarei diso aki. (Inklusive, ese tipo de hevolta pasou a ser vulgarmente xamada de “vinte sentavos”; talves iso lles fasa mais sentido q a mim...)) 
Enfim; não sei se o sistema de envio temporal terá enviado kohetamente este dokumento à data nele espesifikada; se asim o foi — e devo asumir q sim, por q de outra forma não averia sentido em eskrevêlo — eu o faso justamente para tentar evitar, de alguma forma, tantas mortes, e ajudar asim a fazer esa tranzisão de uma forma mais trankuila. A heforma será feita; a língua brazileira será simplifikada, a partir de então, por ser kompletamente helasionada a seus fonemas — asim sendo, espero q saibam q iso não se pode mudar. Estamos, finalmente, dezasosiados de Portugal e de sua língua portugeza, q, por okazião desa hevolta suprasitada — eles insistem em dizer q não fora por kauza dela, mas apenas koinsidentemente kontemporânea a ela — heinkluíram todos os arkaízmos q lles eram interesantes, diferensiandoa, asim, o másimo q lles foi posível. Oje, Brazil e Portugal são ligados apenas pela istória (e tal fato, infelizmente, levou aos eventos dezagradáveis da Terseira Geha Mundial, mas diso também não devo tratar aki). 
Voltando às mudansas gramatikais. Algumas letras kaíram em dezuzo, komo, por ezemplo, os antigos “C”, “Y” e “W”. Para enkontrálos, tive, inkluzive, de prokurar dentre os símbolos matemátikos. Os fonemas a q esse “C” se heferia atualmente são perfeitamente substituíveis pelos “k” e “s”, e os do “Y” pelo noso bom e vello “i”. Os do “W” eram heferentes aos atuais “u” e “v”. Avia ainda um tal “C sedilla”, também ekivalente ao “s”, q já não se enkontra nem neses símbolos! Aliás (não sei se poso espresar opiniões pesoais, mas agora já era), devia ser uma bagunsa eskrever os mesmos fonemas kom letras diferentes — e, às vezes, uma mezma letra q se lia de três diferentes formas, komo o “x”, que se lia komo “x”, “z” e “s”! Outra mudansa foi em helasão a um sinal xamado ífem, um pekeno traso q separava palavras. Já não se uza esa separasão q, de akordo kom miñas peskizas, okohia em palavras komo mikroondas; parakedas; pikapau; bentivi; joãodibaho; amorperfeito; arkoíris; e nas próklizes, mezóklizes e ênklizes, komo em enkontrálo; fazêlo; extraílo; domináloia; subheptísio... É healmente um dezafio ler livros dos sékulos anteriores ao XXI. 
Sei q ese meu pekeno helato, por demais superfisial, pode nem fazer a diferensa fase à abranjênsia de tudo o q ele jerou, mas mesmo asim devo tentar. Ainda somos limitados em helasão ao tamaño dos testos q podemos enviar ao pasado, mas, de kualker forma, ainda me sobra espaso para um último pedido: Não levem tão a sério a forma komo as koizas são eskritas, mas sim a mensajem q elas estão pasando. Se as linguajens fosem tão importantes, não averiam as tradusões para q todos pudesem entendêlas e apresiálas — e, talvez me estendendo mais do q deveria, peso q também não leiam o q foi eskrito tão ao pé da letra; tentem enkontrar a mensajem okulta atrás dos testos.
Boa sorte, e até um futuro prósimo.


Hodrigo Hamati III

domingo, 19 de outubro de 2014

Um trecho marcante de Douglas Adams


Pareceu a Arthur que todo o céu subitamente se afastara para lhes dar passagem.
Pareceu-lhe que os átomos de seu cérebro e os átomos do cosmos estavam fluindo uns através dos outros.
Pareceu-lhe que estava sendo soprado pelo vento do Universo e que o vento era ele.
Pareceu-lhe que era um dos pensamentos do Universo e que o Universo era um de seus pensamentos.
Pareceu a quem estava no Lord's Cricket Ground que outro restaurante da região norte de Londres havia surgido e sumido, como frequentemente ocorria, e que isso era um Problema de Outra Pessoa.
 O que aconteceu?  murmurou Arthur, muito admirado.
 Decolamos  disse Slartibartfast.
Arthur ficou sentado, imóvel e comovido, no assento de voo. Não sabia ao certo se havia ficado enjoado ou religioso.

Douglas Adams - A vida, o Universo e tudo mais, 1982

sábado, 11 de outubro de 2014

Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago


Qualquer livro de Saramago é uma experiência gratificante. Não foi diferente com O Evangelho segundo Jesus Cristo, não foi diferente com Ensaio sobre a cegueira. Grandes histórias, grandes desenvolvimentos, grandes personagens, de um grande escritor. Uma grande trama, simples a início, mas que logo mostra a incrível capacidade do autor de trazer à tona os aspectos mais corriqueiros do dia-a-dia e dar-lhes um novo e profundo significado, uma nova abordagem, uma nova intensidade. Saramago é, para mim, um mestre em dizer o que os outros não conseguem, em escrever o que os outros acham que não precisa ser escrito e, com isso, nos fazer pensar: por que os outros não escrevem assim? Ler um livro dele é perceber a que níveis a escrita pode chegar; nos leva a entender o quê realmente é a literatura, o quê realmente um escritor deve fazer com o seu monte de páginas em branco.

Embora nenhum dos seus personagens  desse livro  tenha nome, cada um deles é notável e marcante; cada um com suas peculiaridades, suas motivações, suas imperfeições, sim, porque pode-se dizer até que são pessoas mais reais que muitas que nós conhecemos. O médico, o primeiro cego, a mulher do primeiro cego, o cão das lágrimas (adorei ele!), o velho da venda, a menina dos óculos escuros  ou a rapariga dos óculos escuros, como ele escreve no português europeu. Essa foi um decisão muito acertada da Companhia das Letras: manter o estilo e a grafia no original, sem adaptações, porque assim podemos perceber exatamente o que passou por sua mente ao escrever  e isso fica, acreditem, perfeitamente nítido através da clareza de sua escrita.

Dizem que essa obra se enquadra no estilo "realismo mágico", ou seja, uma estória realista com um ou poucos elementos irreais ou fantasiosos; talvez isso acabe  em se tratando de Saramago  diminuindo-a. Eu diria, antes, que o que Saramago passa através de seus dedos (em caneta ou teclas) não se limita à realidade, transcende-a, ignora-a em prol do que precisa ser levado aos leitores. A dita realidade é o que menos importa em termos de Saramago; quando ele escreve, o mundo se dobra a ele, em todas as suas particularidades, belezas, feiuras, sutilezas e crueldades  e nenhuma delas, garanto, falta em Ensaio sobre a cegueira.


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terça-feira, 7 de outubro de 2014

As tartarugas ninja, de Jonathan Liebesman


Quase não fiz esse post; muita coisa já foi dita sobre esse filme pela internet... Contudo, o blog é meu e eu dou a minha opinião e pronto =)

O filme já saiu dos cinemas, mas tenho ouvido tantos comentários nonsense que não consegui ficar calado. O filme é bestinha, sim, mas, gente, pelo amor de Deus, é um filme baseado num desenho animado que foi baseado em quadrinhos que falam de tartarugas humanoides gigantes lutadoras de ninjutsu! E com nomes de pintores renascentistas! Treinadas por um rato de esgoto! Que comem pizza! E ainda querem um filme sério???

Poderiam dizer: o roteiro ficou mal feito. Tem furos, eu concordo, mas, gente, é cinema pipoca! Para crianças e adolescentes, em sua maior concepção. O vilão quer ficar milionário, soltando um gás que vai deixar todos da cidade doentes e depois vender o medicamento, e, para que ninguém saiba que foi ele, faz isso numa antena gigante em cima de seu próprio prédio. Não faz nenhum sentido, mas o desenho também é assim. Tem até mais idiotices no desenho que no filme, diga-se de passagem. O Clã do Pé — atentem para o nome! — é muito mais legal no filme; disso parecem esquecer.

E os efeitos especiais? Como ouvi num podcast, os humanos (reais, vale lembrar) parecem mal feitos perto das tartarugas, hehe. O novo design delas me agradou bastante, o tamanho delas também, e a April O'Neil... Ai ai. Melhor nem falar. (Minha esposa fala "ai ai" pro Khal Drogo, então não pode reclamar!) E a cena do elevador é simplesmente incrível.

Enfim, o filme foi bastante satisfatório para mim. Saí do cinema sorrindo, leve e entretido. Exatamente, creio eu, o que o diretor quis.


«««/5

domingo, 5 de outubro de 2014

Dá pra acreditar na Urna Eletrônica?


Ainda não fui votar nessas tristes eleições de 2014 para presidente... A motivação está bem oculta, difícil de ser encontrada, quando paira no ar tamanha dúvida sobre o sistema que o Brasil usa para a votação.

Será que podemos acreditar mesmo na urna eletrônica...? Sabemos todas as coisas de que a informática hoje é capaz; seria tão difícil assim instalar um programa que solte um relatório inicial com todos os candidatos com 0 votos, e depois, na hora das apurações, um relatório final que cuspa um resultado já pré-programado?

Sempre tive esses questionamentos, mas agora, com um aplicativo chamado Boca de Urna, para Android e iOS, que, até esse momento, tem mais de 35 mil intenções de voto cadastradas, e que mostra uma discrepância tão grande entre as pesquisas "oficiais", do IBOPE e DataFolha... Nesses dois "grandes", a Dilma Rousseff tem mais de 40% das intenções, quando no aplicativo ela tem apenas 10%... Sei que existem as questões dos chamados currais eleitorais, mas, mesmo assim, não deviam esses institutos também fugir deles...? Segundo o Boca de Urna, teríamos 2.º Turno, mas entre Aécio Neves, em primeiro, com 40 e tantos por cento, e Marina Silva, em segundo com 20 e poucos. Outra discrepância é em relação às pesquisas para a candidata Luciana Genro, com 6% no aplicativo, muito além dos 1% que a mídia televisiva lhe dá... Na minha interpretação, esse 1% fajuto vem a calhar quando a intenção é minimizar a força que a candidata tem com um tempo de propaganda muito menor que o dos principais candidatos... E, assim, atrapalhá-la em eleições futuras...

Longe de mim estar dizendo que o voto em cédulas de papel é mais seguro; de forma alguma  é tão "roubável" quanto o eletrônico. Tudo o que eu gostaria é de ter certeza que a escolha do povo seria a mesma televisionada à noite...

E, assim, fazer valer a gasolina que eu vou gastar para me deslocar até a escola onde voto.

Seria assim a verdade...?

sábado, 4 de outubro de 2014

Um trecho marcante de José Saramago


Então aconteceu o que tinha que acontecer. Ouviram-se tiros na rua. Vêm-nos matar, gritou alguém, Calma, disse o médico, devemos ser lógicos, se quisessem matar-nos era cá de dentro que viriam disparar, não lá fora. Tinha razão o médico, foi o sargento quem deu a ordem de disparar para o ar, não foi um soldado que de repente tivesse cegado quando estava com o dedo no gatilho, compreende-se que não houvesse outra maneira de enquadrar e manter em respeito os cegos que saíam aos tropeções dos autocarros, o ministério da Saúde tinha avisado o ministério do Exército, Vamos despachar quatro camionetas deles, E isso dá quantos, Uns duzentos, Onde é que se vai meter toda essa gente, as camaratas destinadas aos cegos são as três da ala direita, segundo informação que temos, a lotação total é de cento e vinte, e já lá estão sessenta ou setenta, menos uma dúzia que tivemos que matar, O caso tem remédio, ocupam-se as camaratas todas, Sendo assim os contaminados vão ficar em contacto directo com cegos, O mais provável é que, mais tarde ou mais cedo, esses venham a cegar também, aliás, tal como a situação está, suponho que contaminados já estaremos todos, de certeza não há uma só pessoa que não tenha estado à vista de um cego, Se um cego não vê, pergunto eu, como poderá transmitir o mal pela vista, Meu general, esta deve ser a doença mais lógica do mundo, o olho que está cego transmite a cegueira ao olho que vê, já se viu coisa mais simples, Temos aqui um coronel que acha que a solução era ir matando os cegos à medida que fossem aparecendo, Mortos em vez de cegos não alteraria muito o quadro, Estar cego não é estar morto, Sim, mas estar morto é estar cego, Bom, então vão ser uns duzentos, Sim, E que fazemos aos condutores dos autocarros, Metam-nos também lá dentro. Nesse mesmo dia, ao fim da tarde, o ministério do Exército chamou o ministério da Saúde, Quer saber a novidade, aquele coronel de quem lhe falei cegou, A ver agora que pensará ele da ideia que tinha, Já pensou, deu um tiro na cabeça, Coerente atitude, sim senhor, O exército está sempre pronto a dar o exemplo.
José Saramago - Ensaio sobre a cegueira, 1995

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Tropas estelares, de Robert A. Heinlein


Quando acabei de ler o Tropas estelares — bem, na verdade, quando estava lá pelo meio dele — pensei: Engraçado, parece que não condiz muito com o que lembro do filme... E, pelo que li, eu estava certo.

Enquanto o livro traz uma narrativa mais política, militar e filosófica sobre aquela realidade, o filme traz — naturalmente — mais a ação. Contudo, me parece (preciso rever o filme) que foram bem fiéis à ideia original do que foi escrito pelo sr. Heinlein — e bem escrito, por sinal. Li muitas críticas sobre o caráter "fascista" das ideias ali defendidas, mas acho que exageram um pouco nisso... Aliás, essa atual moda de "politicamente correto" já me deu no saco... Por que aquela realidade escrita por Heinlein não poderia ser, de fato, fascista? É uma criação dele, não é?

Enfim. Gostei muito mesmo do livro. Não tem tanta ação — apesar de que, no final, tem uma cena muito interessante da incursão de Johnny Rico num planeta insetoide. Aliás, nesse ponto, os detalhes do livro são bem superiores aos do filme. No livro, as armaduras dos soldados são trajes impressionantes, inteligentes e resistentes; no filme, são trajes ainda mais simples que os de nossos soldados reais. Os alienígenas, os insetoides, no livro, são inteligentes, usam armas, têm veículos, cidades e naves espaciais; no filme, são bestas, ao que me lembro, irracionais. Contudo, voltando ao que dizia, apesar de não ter tanta ação, acho que a obra valeu, e muito, a pena por conta de seus momentos filosóficos, ainda que muito direcionados (ou será que não?) àquela sociedade.

Recomendo fortemente a leitura dessa obra, e acho que bem que poderia ter uma nova edição...


****/5

Edição em 13/09/15: Saiu uma nova edição, pela Aleph!

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Um trecho marcante de Robert A Heinlein


Fiz uma descoberta muito importante no Acampamento Currie. A felicidade consiste em dormir o suficiente. Só isso, nada mais. Todas as pessoas ricas e infelizes que você já conheceu tomam pílulas para dormir; soldados da Infantaria Móvel não precisam delas. Deem a um soldado um lugar onde deitar e tempo para se enfiar nele e ele ficará tão feliz quanto um bicho dentro de uma maçã — dormindo.

Robert A. Heinlein - Tropas estelares

domingo, 24 de agosto de 2014

Like a selfie


E então, com uma medida provisória votada em tempo recorde, conseguiram acabar com a civilização ocidental estabelecida. Nenhuma guerra foi declarada; nenhum acordo foi revogado; nenhuma sanção comercial restritiva viu a luz do dia; nada disso aconteceu. O que o congresso votou e o presidente assinou — num Universo paralelo ao nosso — foi a imediata proibição das selfies, conhecidas outrora e numa outra dimensão como autorretratos (e, nessa dimensão, curiosamente, ainda existiam os hifens).

O colapso foi crescente: as camadas da sociedade foram ruindo num impressionante efeito dominó. Claro que, nesse Universo paralelo, distante do nosso, alguns efeitos parecem ser ampliados; certas ações parecem produzir reações desproporcionais — ou pelo menos é o que dizem os estudiosos. Dessa forma, uma mera proibição que à primeira vista poderia parecer desimportante, acabou por atacar as bases de todo um ecossistema, como ferrugem numa secular ponte de ferro. Também é necessário pontuar que, inicialmente, o governo não ligou os pontos correta e imediatamente. Nenhum estudioso, é óbvio!, poderia fazê-lo; e somente depois de muito tempo puderam chegar ao verdadeiro marco inicial.

O fato é que os suicídios começaram instantaneamente. O sistema público de saúde chegou a fazer uma vultuosa contratação emergencial de psicólogos, mas muitos deles acabaram também por se matar em seguida. Já não havia motivo para existirem, e nem era a falta de pacientes: era porque já não podiam se autoafirmar; provar sua existência, beleza e importância da única forma que sabiam! Qual seria a razão de conquistar um diploma, se não para se fotografar vestido em seu novo uniforme? E depois em seu consultório, e depois ao lado de seus clientes? Ou em casa — e isso valia para os psicólogos e para os pacientes —, qual a razão de cozinhar um belo prato, feito com base numa receita de um grande chef francês, se não podiam se fotografar ao lado dele? E ir à academia, ao médico, ao supermercado, ao hipermercado e ao minimercado? Qual a graça de ir a Paris ou Foz do Iguaçu se não podia “postar uma selfie” lá? E depois, logo em seguida, em Puerto Iguazu, porque atravessou a ponte, claro, e precisava provar que estivera ali? Já não parecia haver um motivo para viver; já não haviam mais likes. Muitos quebraram seus espelhos, porque a existência desses objetos já não fazia sentido, privados do clímax de seus dias que era o auxílio na realização das selfies. Nesse Universo paralelo, praticamente distante do nosso, noventa por cento da população era refém dos selfies — e dos likes —, e a reabilitação de tal dependência não era possível… Não era, de fato, sequer cogitável. O vício não dava tréguas: os atropelados postavam selfies nas macas; os amantes postavam selfies nus ainda nas camas; as modeletes postavam selfies com todos os looks do dia… Nesse Universo paralelo, quase distante do nosso, até os cachorros e gatos domésticos já estavam postando selfies! Donde se pode, assim, avaliar o avançado estado de degeneração a que essa sociedade chegara.

Outro fato curioso pertinente a esse Universo paralelo (acho que diverso do nosso…) é que tal autoextermínio em massa — se é que essa expressão existe — levou às cabeças das mídias um grupo de darwinistas que defendia a tese de aquilo ser, na verdade, apenas mais uma faceta da seleção natural. Parece-nos, claro, que tal hipótese deve ser brutalmente rechaçada, uma vez que tais indivíduos foram nada menos que destruídos, devastados por tal ato tão imprudente dos políticos, que ainda tinham a audácia de se defender dizendo que “tudo o que haviam feito era para recolocar a sociedade novamente nos eixos da sanidade”. Realmente… Como acreditar em tal discurso, já que os próprios políticos perdiam mais tempo postando selfies nos plenários e congressos do que efetivamente trabalhando? (Ou ainda, numa análise mais racionalista: como acreditar em políticos que se preocupavam com o bem da sociedade?) Nesse universo, talvez outro que não o nosso, os engenheiros erguiam prédios pelos likes; os atletas batiam recordes pelos likes; os sucessos das conquistas amorosas — ou não — eram medidos pelos likes… E a selfie era, para todos, o meio quase que divino de levar ao mundo o conhecimento de tais realizações.

Nesse Universo, que a esta altura eu já nem sei se é ou não o nosso, as aparências valem mais do que a realidade, e talvez tenha sido realmente necessário um evento de extinção em massa para recolocá-lo nos eixos. O problema é que, mesmo com a internet paralisada, corre por aí um boato… Bem, um boato de que o fim da era de suicídios foi marcado por uma selfie em grupo — daquelas, imitadas à exaustão, dos atores na cerimônia do Oscar — com os revolucionários que explodiram o Congresso Nacional, cheio de políticos, e esse mesmo prédio, em escombros e chamas, ao fundo…

Flash forward, de Robert J Sawyer


Flash forward é um dos livros mais legais que li, em se tratando de ficção científica. Não gosto de ficar repetindo a sinopse dos livros na postagem, ainda mais quando deixo o link para o Skoob, mas, vá lá; ele conta a história de um acidente onde a consciência das pessoas é deslocada 21 anos para o futuro, por 2 minutos e alguma coisa — evento a que dão o nome do título do livro. Acontece que, enquanto isso tem curso, as pessoas ficam inconscientes, e muitas delas — muitas! — estão em atividades arriscadas, como descendo de escadas e viajando de avião... E o que muitas delas também veem nesses anos futuros não é exatamente o que elas desejavam ter visto, e é em torno dessas pessoas que gira a trama do livro.

Gostei bastante como a trama foi desenvolvida, assim como os personagens, e o autor não teve receio de tomar as atitudes que julgava necessárias para o andamento realista da trama, e isso é um puta ponto a favor. Odeio soluções forçadas, adocicadas, para que tudo dê certo no fim. A vida simplesmente não é assim, nem tudo têm de dar certo. Os personagens não são os mais legais, em termos de "pessoa" mesmo, mas isso também confere certa veracidade ao livro.

Agora uma coisa legal de se ver/ler, são as "previsões do futuro" que o autor acaba fazendo, como a descoberta do bóson de Higgs, o presidente norte-americano negro (o livro foi escrito em 1999, mas se passa em 2009) e outras coisinhas que eu não me lembro agora; ele erra também, claro, em outras coisas, como o destaque que ele dá aos videocassetes, já praticamente aposentados por essa época, mas demos  a ele também o desconto necessário, né? (Pelo menos não são aquelas fitas perfuradas do Asimov, hehe.)

Achei, enfim, uma obra muito divertida de ler, hard sci-fi mesmo, com toda aquela reflexão que o evento central deve causar nesse estilo de literatura, e bem escrito como muito poucos que chegam aqui no Brasil — inclusive, uma coisa a se notar é que esse autor é bastante prolífico, e por causa da insuficiente chegada desses títulos aqui em nossa terra, eu tenho que dizer que o desconhecia totalmente.

Claro que o panorama está melhorando de uns anos para cá, com casas editoriais trazendo cada vez mais títulos interessantes, mas tô vendo que vou é ter que abrir minha própria editora, para traduzir essas pérolas da fantasia, terror e ficção científica — como as obras Ancillary justice de Ann Leckie; La corte de los espejos de Concepción Perea; The snow queen de Joan D. Vinge; e as Paprika e Hell de Yasutaka Tsutsui; como muitas outras mais antigas e para nós desconhecidas — que dificilmente chegam/chegarão por aqui...

Enfim; ««««/5


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Um trecho marcante de Érico Veríssimo


Ana Terra sacudiu a cabeça lentamente, mas sem compreender. Para que tanto campo? Para que tanta guerra? Os homens se matavam e os campos ficavam desertos. Os meninos cresciam, faziam-se homens e iam para outras guerras. Os estancieiros aumentavam suas estâncias. As mulheres continuavam esperando. Os soldados morriam ou ficavam aleijados. Voltou a cabeça na direção dos Sete Povos, e seu olhar perdeu-se vago, sobre as coxilhas.


domingo, 3 de agosto de 2014

A morte da luz, de George R R Martin


A morte da luz é, para mim, a melancolia retratada com palavras. Creio ser mesmo essa a palavra que melhor o define, e o título é, de fato, o resumo perfeito de Worlorn, o mundo onde se passa a trama. Um mundo que se afasta cada vez mais de seu sol — ou sóis, no caso —, com habitantes que se afastam cada vez mais de seus sonhos.

Dirk t'Larien é o protagonista assombrado por seu passado, que se torna seu presente e o assombra ainda mais quando joga em sua cara sua falta de futuro. Por mais diferente que seja, esse livro me lembrou o A estrada — em sua melancolia e falta de esperança. São tramas onde o que se têm está exposto à sua frente, e pouco ou nada se pode esperar de novo; assim, têm-se que viver um novo dia sem qualquer expectativa — ou mesmo sem qualquer alegria.

George Martin mostra, já nesse seu primeiro livro, que a qualidade de sua narrativa não cairia no mar da mediocridade. Para quem consegue imergir no mundo que ele apresenta, o que acaba encontrando é uma paisagem idílica; vazia, sim, mas cheia de poesia, e um reflexo do que vai à alma dos personagens principais.

Não há um antagonista, não há romance, não há clichês. Não há um protagonista heroico, e não há uma mocinha em perigo. O que há é um background extremamente bem construído, para os personagens e para os ambientes, para a história e para as justificativas, e há também aquele tradicional jogo que o autor faz com nossos sentimentos, em que num dado momento você se pega sofrendo pelo "antagonista" e desejando dar um tiro na cabeça do "par romântico" do "herói".

Dizendo assim, pode até parecer ter sido uma leitura ruim, mas muito pelo contrário: foi uma das melhores que fiz no ano. É errôneo imaginar que existe prazer apenas na beleza e na alegria; a melancolia é um dos sentimentos que mais nos coloca em contato com nosso verdadeiro "eu", e um dos mais profundos que podemos experimentar. Ainda que o final não seja uma unanimidade entre os que leram o livro, para mim foi perfeito: não há o que detalhar. Não importa, simplesmente. A morte da luz é apenas o retrato do fim — do fim de algumas histórias, do fim de algumas vidas.


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terça-feira, 15 de julho de 2014

Mundos opostos, de Juan Solanas


Assisti, pela segunda vez, o filme Mundos opostos (Upside down), de 2012, em DVD, e, após essa mais atenta avaliação, creio ter alguns comentários a fazer.


Esse foi um filme que, pelo menos aqui no Brasil, chegou sem propaganda. Eu, particularmente, nunca tinha ouvido falar, e olha que eu acompanho, senão os filmes, ao menos as notícias cinematográficas com certa assiduidade. Ele se trata de... uma ficção científica ou uma fantasia?... sobre dois jovens que se apaixonam e que são — literalmente — de mundos opostos; um planeta que coexiste com um outro, gêmeo, irmanado de alguma forma, próximos, mas próximos mesmo, um do outro, coisa de uns 500 metros de distância. Pelas leis naturais desse sistema, a gravidade de um não influi no outro, e qualquer objeto de um mundo não é afetado pela gravidade do outro. Além disso, se um corpo qualquer de um mundo ficar em contato com um corpo qualquer do outro, depois de um certo tempo, cerca de 1 hora, eles entram em combustão. Tudo bem; suspensão da descrença; isso é fácil de fazer após se acostumar com a ideia, e acaba funcionando bem se você imerge naquele(s) mundo(s), e isso é um puta ponto a favor da história — super original, criativa e inventiva.

Outro ponto ainda que posso parabenizar é a estrutura narrativa do filme. Ainda que dê, de fato, a impressão que foi adaptado de uma história maior, um livro talvez (confesso que procurei depois na internet pensando tê-lo sido, mas não foi), pode-se perceber a fuga da fórmula narrativa hollywoodiana atual; tudo transcorre quase como uma fábula. O final, inclusive, reforça essa impressão, e se o diretor Juan Solanas realmente desejou que assim fosse, parabéns para ele. As atuações de Jim Sturgess e Kirsten Dunst são ótimas para os personagens protagonistas, também.

A questão é... Mesmo para os padrões da física proposta nessa história, algumas coisas parecem meio fora de lugar. Não entendam isso como algo que realmente atrapalhe a apreciação da obra, mas, para autores como eu, que têm que se preocupar com os mínimos detalhes para que um mundo seja verossímil, isso incomoda um pouco. Como, por exemplo, nos momentos em que o personagem Adam está "no outro mundo". Por mais que ele esteja sendo preso lá pelos pesos, ele ainda está de cabeça para baixo; assim, imaginem o desconforto que ele estaria sentindo...? Comer qualquer coisa então... Me pareceria praticamente impossível.

É claro que se abre mão de certas coisas por causa da tal "licença poética" — e de poesia esse filme entende, porque ô fotografia bonita! —, mas ainda acho que um pouquinho mais de cuidado com o produto final nunca fez mal a ninguém.

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sábado, 12 de julho de 2014

Memórias de minhas putas tristes, de Gabriel García Márquez


Acabei de ler Memórias de minhas putas tristes, do Márquez — uma leitura rápida e prazerosa; um livro curtinho e tranquilo, e que, contrariando minhas expectativas, se revelou muito, muito divertido!

Não vou falar sobre o autor; sua qualidade é indiscutível, e pouco ou nada eu poderia acrescentar sobre ele. Só posso dizer que já me conquistou pela primeira obra que li dele. Olho agora com melhores olhos para o Cem anos de solidão que está parado na minha estante há tempos. O que é realmente interessante comentar é a história, onde um homem de noventa anos — que, a exemplo d'O oceano no fim do caminho, que só percebi o protagonista não ter nome após acabar de ler a obra — resolve ter, para comemorar, uma noite de amor com uma adolescente virgem. Claro que eu não vou revelar o desenrolar da trama, mas é — curiosamente — de uma pureza e simplicidade tão tocante que chega a ser encantadora. É um daqueles livros que você lê com um sorriso no rosto, e, quando terminar, pensa: "que legal!".

Não sei se dá para julgar o escritor já por essa obra, mas, de qualquer forma, me encantei com a forma como ele escolhe para dizer o que tem para dizer; e nada mais, e nada menos.


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sexta-feira, 11 de julho de 2014

Um trecho marcante de Victor Hugo #4


O homem é o paciente dos acontecimentos. A vida é um perpétuo sucesso, imposto ao homem. O homem não sabe de que lado virá a brusca descida do acaso. As catástrofes e as felicidades entram e saem como personagens inesperadas. Têm a sua fé, a sua órbita, a sua gravitação fora do homem. A virtude não traz a felicidade, o crime não traz a desgraça; a consciência tem uma lógica, a sorte tem outra; nenhuma coincidência. Nada pode ser previsto. Vivemos de atropelo. A consciência é a linha reta, a vida é o turbilhão. O turbilhão atira à cabeça do homem caos negros e céus azuis. A sorte não tem a arte das transições. Às vezes a vida anda tão depressa que o homem mal distingue o intervalo de uma peripécia a outra e o laço de ontem a hoje.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Os trabalhadores do mar, de Victor Hugo


Ler Victor Hugo não pode ser considerado um ato de entretenimento, eu acho; é, antes, uma experiência. Para mim, é perfeitamente clara a diferença entre ele, enquanto escritor, e outros autores, enquanto contadores de histórias. É o tipo de escritor que consegue construir uma obra relevante e interessante sobre qualquer coisa, ou sobre o nada. E sim, consegue, no presente, porque é imortal. Ler Victor Hugo é como ouvi-lo nos falar, dissertar sobre a natureza das coisas, e perceber não ter qualquer argumento para rebatê-lo.

Os trabalhadores do mar é aquela que alguns dizem ser sua obra-prima. Outros defendem ser, naturalmente, Os miseráveis, a mais midiática talvez, e outros ainda Nossa Senhora de Paris, mais conhecida como O corcunda de Notre-Dame, mas eu, particularmente, duvido que ele tenha alguma obra menos melhor que a outra. Ainda não li as outras — pecado que pretendo reparar em breve —, mas essa que acabei de ler é, sem dúvida, uma das melhores ficções não fantásticas (no sentido da FC&F) que li em minha vida.

Não bastasse ser um excelente filósofo, por assim dizer; um excelente observador da vida e de igual perícia em descrevê-la com palavras; ele é, ainda, um ótimo narrador da ação, quando ela toma espaço na história. Tem perfeito domínio do que quer causar em seu leitor, seja admiração, espanto, desilusão ou nervosismo — como na cena com a pieuvre; quem leu há de saber. Sem dúvida, era algo que eu não esperava, e causou uma tensão terrível e magistralmente construída.

Do meio para o final do livro, da forma em que a história se desenvolve, eu já imaginava que o final não poderia ser exatamente feliz, mas de forma alguma previa a virada do rumo das coisas daquela maneira. Não que tenha sido triste, ou errado; apenas foi um final real — que é exatamente o que mais gosto nas histórias, seja lá de qual forma ela forem contadas. A escrita de Victor Hugo parece ser a vida real em sua essência, com os seus melhores e piores aspectos, como se, por uma mágica, ela fosse transportada para o papel.

E, afinal, talvez seja mesmo isso o que ele fez — o que ele faz: mágica. Ele apenas nos engana ao escrever; o que em verdade faz é criar um portal temporal que nos leva diretamente àquela realidade, filtrada por seus olhos para que pareça ainda mais real, bela e admirável.


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Um trecho marcante de Victor Hugo #3


De ordinário, o mar oculta os seus lances. Conserva-se voluntariamente obscuro. A incomensurável sombra guarda tudo para ele. É raro que o mistério renuncie ao segredo. Há um quê de monstro na catástrofe, mas em quantidade ignota. O mar é patente e secreto; esconde-se, não quer divulgar as suas ações. Produz um naufrágio e abafa-o; engolir é o seu pudor. A vaga é hipócrita; mata, rouba, sonega, ignora e sorri. Ruge, depois abranda-se.

domingo, 6 de julho de 2014

Um trecho marcante de Victor Hugo #2


Ante os mais graves dogmas, ostentava–se quase sem reservas a irreligião de Lethierry. Deu-se o acaso de ser levado a ouvir um sermão acerca do inferno, pregado pelo Reverendo Jaquemin Herodes, sermão magnífico, empachado de textos sagrados, que provavam as penas eternas, os suplícios, os tormentos, as condenações, os castigos inexoráveis, os fogaréus sem fim, as maldições inextinguíveis, as cóleras do Onipotente, os furores celestes, as vinganças divinas, coisas incontestáveis; Lethierry ouviu o sermão e, ao sair com um dos fiéis, disse–lhe baixinho: “Ora, quer ver? Eu cá tenho uma ideia ratona. Suponho que Deus é bom.”
Adquiriu esse germe de ateísmo quando residiu na França.
Victor Hugo - Os trabalhadores do mar 

O humor de Victor Hugo é um negócio genial, não é mesmo?

E qualquer coisa —até mesmo a primorosa narrativa dele e a igualmente primorosa tradução do Machado de Assis— fica exponencialmente melhor com o humor =)


quinta-feira, 3 de julho de 2014

Por que abandonar um livro?


É claro que sei que cada um tem seus motivos para abandonar um livro, e que alguns também relutam em fazê-lo, mas isso é coisa que aprendi a fazer sem remorsos. Li, com acerto, que nosso tempo, para ler tudo o que queremos, é curto; assim, não se deve hesitar em abandonar uma leitura que não te dá prazer.

Para mim, é por isso que abandono um livro: quando ele não me dá prazer. Não estou falando da história ser fraca ou a escrita ser pobre; estou falando, simplesmente, de não se deliciar com a leitura, com a literatura. Isso às vezes se dá por um ou outro desses motivos citados, mas às vezes por outros diversos. Abandonei Novelas exemplares do Cervantes não por causa do estilo, mas por não gostar das histórias relatadas; abandonei Linha do tempo do Crichton porque não gostei do estilo apesar de a trama ser legal, mas a obra mais recente da qual desisti... Infelizmente dá até desgosto, e estou falando dos Fios de prata do Raphael Draccon.

Por que "infelizmente"? Porque, sinceramente — e não sei isso aconteceu se por causa da fama e do prestígio do autor —, foi uma obra que — até onde eu li, devo admitir —, em minha opinião, careceu de revisão. Parece-me que faltou alguém que dissesse: isso está mal escrito; isso não faz sentido; esse efeito foi repetido muitas vezes em páginas seguidas; a pontuação dessa frase está errada/malfeita/esdrúxula. Não é porque o cara é famoso que não pode ouvir esse tipo de coisa, e, nessa obra em questão, parece que foi isso o que aconteceu. A ideia, como já foi exaustivamente discutido na internet, é boa, é interessante, mas a execução, me parece, necessitou de um desenvolvimento e de uma revisão mais cuidadosos. Muito mais cuidadosos. Isso é o tipo de coisa que — creio — acaba por atrapalhar o status a que a literatura fantástica ascendeu; quando um autor que já publicou, com boas vendas, quatro livros, três de uma saga da qual já li o primeiro e gostei muito e um outro que também li e gostei, com algumas ressalvas, quando esse autor publica um quinto livro — ao que me parece — apenas com a força de seu nome... Pode ser que eu esteja sendo injusto, mas não creio que esse texto teria passado pelo crivo das editoras se tivesse um outro nome, sem tipologia própria, em sua capa, ali, perto do título.

É só o que eu acho, e por ser isso mesmo, o que eu acho, que eu abandonei essa leitura. Acredito que a trama possa mesmo ser boa, mas não acredito que mereça — por causa de tantos erros — ter meu tempo em detrimento de outros escritores muito mais cuidadosos, nacionais inclusive, que aguardam em minha estante. E, mais uma vez, vale lembrar, abandonei Michael Crichton pelo mesmíssimo motivo — e ainda bem que minha opinião não vale de nada para o autor, que tem uma base já bem estabelecida de fãs, assim como o estadunidense.


sexta-feira, 27 de junho de 2014

Geração subzero, organizado por Felipe Pena


Uma das coletâneas que eu mais queira ler era a Geração subzero: 20 autores congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores, organizada pelo jornalista, escritor e professor Felipe Pena e publicada pela editora Record. Outras que certamente estarão em minha estante são a Solarpunk, as Imaginários, as Space opera e a Fantasias urbanas, além das que eu já tenho Year's Best SF8, que não foi lançada aqui no Brasil, tratando-se de uma pesca dos melhores contos de FC publicados nos EUA no ano de... sei lá, no passado, e a Wild Cards, compilada pelo serial killer George Martin.


Felipe Pena organizou esse livro com base em outro, onde foi-se definida a "geração 00" da literatura, os "melhores" escritores surgidos no Brasil depois da virada do milênio, num esforço elitista ridículo. Ele, então, criou o trocadilho da geração subzero, dos autores congelados pela crítica especializada. Ele mesmo, ainda, garante que não é uma antologia, não é uma seleção de "melhores" ou qualquer babaquice dessas, mas apenas uma seleção de contos dos autores que estão sendo falados pelas internets da vida. Assim, temos um conto de praticamente cada gênero possível, tão variados em suas estruturas quanto em suas qualidades.

Assim sendo, vou deixar meus breves comentários — atenção ao itálico — sobre o que achei ou senti sobre cada um dos contos.


1. O cão, de Juva Batella. Um conto humorístico, light, bom pra começar de forma despretensiosa, como o organizador se propõe. Bem escrito. Não conhecia o autor antes, mas agora estou aberto e lê-lo novamente. 3/5.

2. Cristais de prata, de Pedro Drummond. Esse eu achei muito bom, de verdade. Gostei da revelação do final, um conto mais longo bem construído, exemplar mesmo. 4/5.

3. A canção de Maria, de André Vianco. Nunca gostei do estilo de escrita do Vianco, e não foi dessa vez que mudei de opinião. Sequer acabei de lê-lo. Compreendo a importância do autor, foi ele quem abriu as portas da literatura fantástica no Brasil, mas não é pra mim. 1/5.

4. Na maternidade, de Thalita Rebouças. Apesar de nunca tê-la lido, já sabia da qualidade da autora. Um conto curtinho, realista e simples, e demonstra a habilidade da autora em se colocar na pele de um homem. 4/5.

5. Fogo e trevas, de Eduardo Spohr. Outro que não é pra mim. Acho a escrita dele muito empolada, muito cheia de clichês, e esse conto não apresentou nenhuma emoção pra mim. Também é um autor essencial na crescida da fantasia no país, mas... Enfim. 2/5.

6. O índio no abismo sou eu, de Luiz Bras. Esse autor eu já tinha lido sobre, e que ele era foda. Só não imaginava que era tão foda assim. Sinceramente, o melhor conto do livro. Até adquiri um livro do Bras, o Paraíso Líquido, uma coletânea de contos dele, depois de ler essa obra-prima da ficção científica. 5/5.

7. A filha do diabo, de Luis Eduardo Matta. Já conhecia o autor pelo podcast Ghost Writter, mas nunca tinha lido nada dele  assim sendo, fui surpreendido positivamente. É um conto muito divertido, meio terror, meio suspense, e com um final interessantíssimo. 4/5.

8. Dê-me abrigo, de Sérgio Pereira Couto. Um conto interessante. Sem muitas emoções, pelo menos pra mim, mas valeu a leitura. 3/5.

9. Ao cortar os cordões, de Estevão Ribeiro. Esse é curioso. Instigante, meio maluco, e acho que foi por isso que gostei. 4/5.

10. O primeiro dragão, de Raphael Draccon. O estilo do autor é bem próprio dele, e devo admitir que não consigo me acostumar 100%, parece que não consigo imergir completamente na história. O estilo chama mais a atenção do que a trama, e acho que isso não é exatamente positivo... De qualquer forma, é um conto que se passa no meu amado mundo de Arton, do cenário brasileiro Tormenta, e acaba sendo, no final das contas, um conto muito bom. 4/5.

11. O preço de uma escolha, de Ana Cristina Rodrigues. Um conto policial num futuro típico de ficção científica. A ambientação é interessante, mas a trama não me trouxe muitas emoções, além de ter sido meio clichê. 2/5.

12. Polaco, de Julio Rocha. Esse conto é muito divertido! Curtinho e eficiente. Parabéns pro autor. 4/5.

13. Para sempre em um dia, de Helena Gomes. Gostei muito desse também, tem uma aura de A lenda do cavaleiro sem cabeça muito gostosa de se imergir. É bem possível que eu procure algo mais da autora. 4/5.

14. Outra vez na escuridão, de Carolina Munhóz. Confesso que comecei a ler cheio de preconceitos, mas me impressionei. A escritora é realmente muito boa, e suas fadas não parecem nada com o que se pode imaginar desses seres. Parecem seres saídos dum conto de Lovecraft, quase. E a revelação de sobre o quê se trata o conto é muito legal! Eu descobri  ou pelos menos supus  já pelo meio do conto, mas o finalzinho é perfeito. 4/5.

15. A sabedoria de Clementina, de Vera Carvalho Assumpção. Um conto interessante, mas temo não poder dizer que o achei muito mais do que isso. Poderia dizer que é bom até; sua trama é interessante. 3/5.

16. Entrevista com o Saci, de Martha Argel. Gostei muito desse; criativo, inventivo, reinventivo  e se essa palavra não existe acabo de inventá-la  e bem escrito. Quase uma fábula, ou uma fábula sem o quase. Só não dou uma nota maior porque tenho que pôr o conto do Luiz Bras acima dos outros. 4/5.

17. Outras onomatopeias, de Janda Montenegro. Confesso que não entendi bem esse, e se entendi, não curti muito. 2/5.

18. O escritório de design probabilístico, de Delfin. Esse é muito inventivo! Aliás, com um nome desse, a probabilidade de ser um conto legal era muito alta, e se confirmou! Instigante, e o final é excelente. Queria a continuação dele em um romance, hehe. E procurarei mais coisas do autor. 4/5.

19. Um chá com Alice, de Eric Novello. O romance Neon Azul do autor já está na minha lista de "quero ler" somente pelos bons comentários sobre ele, e, definitivamente, continuará lá. É um conto tão maluco e interessante quanto a obra original de onde a personagem foi retirada. 4/5.

20. A Lua é uma flor sem pétalas, de Cirilo S. Lemos. Outra boa surpresa, ótimo para finalizar o livro. Um futuro distópico, uma ficção científica crua e bruta, e, infelizmente, bastante realista. O mais longo do livro, e mereceu seu posto de encerrador dessa coletânea. 4/5.


Como média, a nota final foi 3,45 num total de 5, mas o resultado final, residual, me parece tão positivo, no sentido de elencar todos esses autores bons e relevantes, que vou arredondar a nota para cima. Vale, sem dúvida, cada centavo e cada minuto gastos na coletânea — e, claro, suas avaliações podem ser (e provavelmente serão) bem diversas das minhas.

Então, sr. Felipe Pena e editora Record, fico aguardando o Geração subzero 2, ok?


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quinta-feira, 26 de junho de 2014

O alienista, de Machado de Assis


Finalmente consegui ler um livro que eu estava interessado há muito tempo, desde que descobri o melhor escritor brasileiro de todos os tempos, o Machadão, e ainda numa edição bonitinha da Saraiva de Bolso.

O alienista faz jus a tudo a obra de Machado de Assis é: inteligente, sarcástica, crítica, humorística, descompromissada... e moderna demais para a sua época. Tirando algumas poucas palavras que caíram em desuso (ouviu, dona moça que quer simplificar o texto do Machadão?), ela parece quase contemporânea, e se tivesse sido escrita em inglês e eu não conhecesse o autor, poderia dizer que estava lendo um Douglas Adams mais pé no chão.

Agora, o que mais me deu alegria foi descobrir que, mesmo após um século e apesar de tudo o que já foi dito sobre a obra e eu achar já saber de tudo o que aconteceria, eu não levei spoiler do final! E que é muito bom, por sinal. Encerra o... romance? conto? novela? de forma magistral e, por que não?, justa.

Apesar de eu achar que Simão Bacamarte estava, em sua segunda teoria, é mais do que certo mesmo, hehe.


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