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terça-feira, 22 de setembro de 2015

Imaginários vol. 3, organizado por Erick Santos Cardoso


O volume 3 foi o primeiro das incríveis coletâneas Imaginários da editora Draco que consegui ler. Como os outros volumes, são contos de fantasia, ficção científica e terror, sempre de autores nacionais  como é o procedimento dessa editora. Achei o resultado desse volume muito positivo, e, no geral, fui surpreendido! Assim, sem mais enrolação, vamos às (breves) análises dos contos.



1.º: A torre das almas, de Eduardo Spohr.
Um conto passado no universo ficcional de A batalha do Apocalipse, do autor. Mostra uma aventura curta, com a solução de um "caso policial" pelos celestiais infiltrados no mundo físico  mas sem emoções e sem fatos intrigantes. Como esse volume 3 é de 2010, espero que o autor tenha melhorado também sua escrita depois disso, porque tem muito tell e pouco show (da pérola estilística "show; don't tell"  mostre; não conte). Dava para ter contado tudo o que ele queria contar sem tanta explicação gratuita, mas... De qualquer forma, serve como introdução ao seu universo. E para mim já foi o suficiente.
Nota 2 de 5.

2.º: Um breve relato da ascensão do Papa Alexandre IX, de Marcelo F Assami.
Um conto interessante. Bom. A narrativa de uma sucessão papal nada convencional (ou seria...?), com um algo a mais. O escritor mostra bastante ao invés de contar, e isso é ótimo. Dá a sensação de que estamos deixando passar algo despercebido. Interessante também ele usar os sobrenomes de escritores (inclusive o dele próprio) para seus personagens; apesar disso ser bastante feito por aí (até eu já fiz), sempre é legal.
Nota 3 de 5.

3.º: As noivas brancas, de Rober Pinheiro.
Um conto muito legal. Uma aventura de resgate, num cenário de ficção científica, com toques de psicodelia engraçadíssimos. Vale ressaltar que Rober escreve muito bem.
Nota 3 de 5.

4.º: Bonifrate, de Douglas MCT.
Conto de ficção científica muito bom! O autor conseguiu aqui, nessa releitura de um conto popular, criar um mundo muito mais interessante do que o da outra outra que li dele, Necrópolis. Lembrei-me de um filme de que gostei muito  o Inteligência artificial , então isso deve ter ajudado na apreciação da obra. Muito bem escrito também.
Nota 4 de 5.

5.º: Dies irae, de Lidia Zuin.
Conto de ficção científica regado a drogas e perseguições. Escrita muito boa; uma protagonista sem chance de redenção ou ajuda possível; um final, pelo menos para mim, enigmático  e, não sei bem dizer por quê, mas histórias sobre a decadência humana são sempre atrativas.
Nota 3 de 5.

6.º: Vida e morte do último astro pornô da Terra, de Marcelo Galvão.
Conto compacto e excelente! Criativo na forma e com uma virada interessante no final; muito bem escrito e com um tema mais profundo do que aparenta. Apesar do nome... suspeito, digamos, é o melhor conto da coletânea.
Nota 5 de 5.

7.º: Corre, João, corre, de Cirilo S Lemos.
No começo, dá de se pensar onde estará o elemento fantástico desse conto, mas tudo muda do meio para o fim, quando a história dá uma guinada e o ritmo, que já estava agitado, se torna frenético e agoniante. Ótimo. Não podia ser diferente; quando vi que seria uma história desse autor, já imaginava que não ia me decepcionar.
Nota 4 de 5.

8.º: Uma segunda opinião, de Fernando Santos de Oliveira.
Um conto de vingança estudantil, com um "quê" de Carrie, a estranha. A escrita é, claramente, de um autor iniciante (tanto que sua biografia ao fim do livro não cita outros títulos), e o tema não me prendeu; achei até meio bobinho, inocente. Esse é o mais fraco da coletânea.
Nota 2 de 5, porque o final foi interessante e diferente do que esperava.

9.º: Maria e a fada, de Ana Cristina Rodrigues.
Conto interessante, bem escrito, com uma ambientação medieval que me agradou bastante. Tem uma aura mágica e o jeito da autora contar a história ajudou muito na trama relativamente simples.
Nota 3 de 5.

10.º: O primmeiro contacto, de Fábio Fernandes.
Conto muito criativo na forma  o autor escreve como não fosse ele o autor do conto; como se este tivesse sido encontrado num sebo, escrito por um suposto Dr. Eleutherio Penna Filho, pseudônimo de um artista desconhecido, no ano de 1929 , mas nem tanto na trama. Ok, o conto tem que ser encarado como se tivesse realmente sido escrito antigamente, então a trama está adequada  até mesmo a "inocência" relativa às viagens espaciais é justa, porque faltariam ainda décadas para o início das aventuras espaciais da humanidade. A ortografia também simula a escrita antiga; no entanto... as contruções frasais não convencem. Não sei dizer por quê, mas o... linguajar?... estilo?... algo me incomodou. Talvez seja o estilo mesmo; os "cortes" da cena parecem muito modernos, muito dinâmicos. Antigamente as narrativas eram mais lentas, mais descritivas, menos cinematográficas... Enfim; de qualquer forma, é um conto muito bom para o que propõe. Usa personagens históricos (outro recurso que também acredito ser mais moderno do que clássico), mas acho que acabou faltando um pouco de emoção na trama.
Nota 3 de 5.

No final, posso dizer com tranquilidade que a coletânea vale o que custa — e deixa o leitor com vontade de ler os outros volumes. Acho que vale um 3,5 de 5 de nota final :)

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Algumas observações sobre a criação literária


Um grande escritor, Raymond Chandler, do qual infelizmente li somente uma obra — A dama do lago —, fez uma observação muito interessante (e muito válida) sobre os detalhes que verdadeiramente interessam e que prendem a atenção do leitor:
"Minha teoria é de que os leitores apenas pensam que o que lhes interessa é a ação. Na verdade, embora não saibam, ligam muito pouco para isto. O que os atrai, e me atrai, é a criação de emoção através de descrição e diálogo. O que eles lembram, e que não sai de sua cabeça, não é, por exemplo, que um homem foi assassinado, mas que no momento de ser morto ele estava tentando pegar um clip na superfície polida de sua mesa, e o clip escapulia dos seus dedos, de modo que havia uma contração no seu rosto e sua boca estava entreaberta numa espécie de sorriso tenso, e a última coisa que passava pela sua cabeça naquele instante era que iria morrer. Ele nem sequer escutou alguém batendo à porta. O maldito clip continuava escapulindo dos seus dedos e ele teimava em não querer empurrá-lo até a borda para fazê-lo cair sobre sua mão aberta."

O escritor Braulio Tavares (do qual comprei por esses dias duas obras  A espinha dorsal da memória e Mundo fantasmo —, mas que ainda não li) também teceu considerações acerca desse tema:
"Esses detalhes circunstanciais tornam uma cena algo único, e portanto algo mais vívido e mais verdadeiro. Leitor burro é inseguro, precisa encontrar a todo instante uma confirmação do que já sabe  se o cara que vai morrer é um milionário, por exemplo, ele não pode estar pegando um clip, tem que estar contando dinheiro, ou algo assim. O leitor inteligente sabe que muitos momentos de nossa vida se concentram assim, em detalhes totalmente insignificantes, que passam a significar não pelo que são, mas pelo foco que nossa atenção lhes concede."
"Sem contar que muitos gênios em potencial não comungam dessas certezas. Criam, mas não creem; criam massacrados pela descrença em si próprios. Kafka, nos seus Aforismos, diz: 'Antes eu não entendia por que não recebia nenhuma resposta à minha pergunta, hoje não entendo como podia acreditar que era capaz de perguntar. Mas realmente não acreditava, só perguntava'. Hoje em dia, numa época de Egos bombados a poder de esteroides, duvidamos que alguém possa criar uma obra de peso baseada na dúvida e na insegurança, mas não há dúvida de que muitos criaram assim, criaram quase a despeito de si próprios."

Essa segunda citação dele é muito importante. Temos muitos escritores atuais que se acreditam a salvação da lavoura  ou pelo menos se acreditam bons o bastante para não precisarem de uma edição dura e uma boa dose de autocrítica. Que escrevem com certeza, ao invés de, como disse Tavares, usarem a dúvida como combustível para suas criações.

Creation, arte de Justin R. Christenbery

terça-feira, 15 de setembro de 2015

A bússola de ouro, de Philip Pullman


Que surpresa esse A bússola de ouro! De verdade! Imaginava que seria bom, li boas críticas, percebi a aura que cerca a obra... mas, de forma alguma, esperava um conteúdo tão original, brutal e emocional. (Cacofonia manda lembranças.)

Engana-se quem pensa que é um livro para crianças. Ainda que seja um livro com uma como protagonista — e que protagonista! —, críticas à Igreja e ao extremismo religioso, maxilares sendo arrancados com socos deixando a língua pendurada e pessoas comendo órgãos crus de animais recém-abatidos para não morrerem de fome não se encaixam na minha definição de livro infantil.

Além da surpresa com a trama, não dá para não gostar de Lyra, Pantalaimon — seu dimon, algo como sua alma em forma de um animal que a segue (todos os humanos nesse universo paralelo têm um) — e de Iorek Byrnison. Porra, ele é um urso polar de armadura! E que fala!

A trama também apresenta muitas reviravoltas — como toda boa aventura —, mas é dependente da continuação. Gosto quando o primeiro livro de uma série encerra a possibilidade de ser lido sozinho, mas aqui isso nem me incomoda. Que venha A faca sutil, o livro 2 da trilogia Fronteiras do universo — e que seja tão bom quanto esse...!

Porque, por enquanto, o senhor Felipe Pãodeforma está de parabéns!

Lyra, a menina; Pantalaimon, o dimon em seu colo; e Iorek Byrnison, o urso.

 Livro: A BÚSSOLA DE OURO •
• Autor: PHILIP PULLMAN •
• Editora: Objetiva •

Personagens: ★★★★
Trama: ★★★★
Escrita: ★★★★
Ambientação: ★★★★
Revisão: ★★★★☆
Capa: ★★★★☆

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Recortes urbanos


Alguns recortes urbanos, fotografados em 2009/2010.


Uberaba, MG

Sorocaba, SP

Sorocaba, SP

São Paulo, SP

Uberaba, MG

Aparecida, SP

domingo, 13 de setembro de 2015

Por que o nome do autor também vem na capa? (ou A importância da Ficção Científica)


(Originalmente publicado no Papo de Cafeteria.)

Certamente, falando sobre livros, você já ouviu a célebre — só que não — frase: “Mas isso aí é ficção científica...” (e complementada por N colocações preconceituosas e com a pior ênfase possível no termo “isso aí”). Estou certo que, dentre todos os seus conjuntos de reações prováveis, boa parte delas envolveu um nó nas tripas — e, cá entre nós, isso é perfeitamente compreensível. É quase como ouvir falar mal da mãe, para nós, amantes do gênero. E é por isso que estamos aqui, sentados nessa mesa, degustando nossos cafés, não é? Aliás, vai um gole aí de cappuccino? Não? Melhor para mim, hehe. Talvez, depois desse papo, você possa ter uma coisa (ou duas) a dizer quando ouvir esse tipo de... abominação. Assim sendo, para início de conversa, posso sugerir uma questão? Pense nisso, e me responda:

Qual é, afinal de contas, a importância da Ficção Científica na literatura?

Arte de Fahrenheit 451, por aspius

Pensou? Então considere, agora, uma questão maior ainda: Qual é a importância de qualquer coisa? Essa segunda questão complicou o raciocínio? Qual é a importância da sua casa para um morador do Vietnam? E qual é a importância, para você, do vaso de cerâmica que esse vietnamita decorou com pintura? “Importância” é subjetiva ou não? Ou eu já estou elucubrando — especulando, filosofando, matutando — demais? Elucubrar é desimportante? Ou estimula o raciocínio? Quem pensa demais acaba por ficar louco, ou por impulsionar as ciências? (Desconsidere a possibilidade de ambas as coisas ocorrerem ao mesmo tempo.) Há alguma resposta definitiva ou objetiva a qualquer uma dessas questões?

O tipo de pessoa que levanta aquela inominável questão do início do papo frequentemente também diz que tais obras são repletas de “fantasias” e “coisas impossíveis”, e que, definitivamente, não podem ser comparadas à importância das obras dos mestres da literatura. Algo me diz que esses mestres não pensariam assim, mas não entremos nesse mérito; o caso é que, se essas pessoas se atêm somente a esses aspectos dessas obras... bem, elas devem absorver a mesma taxa de conteúdo de Dan Brown, Paulo Coelho, Liev Tolstói e José Saramago, nivelada por baixo. (A definição de “baixo", neste caso, deixo para você.)

A questão é: não seriam essas “fantasias” e “impossibilidades” justamente as elucubrações de autores que pensam a fundo questões científicas? E estou falando tanto dos átomos e da física quanto das ciências sociais. Que criam mundos futuristas, viagens e linhas temporais, distopias e falsas utopias, evoluções e manipulações genéticas incontroláveis? Em que sentido essas elucubrações divergem das dos autores “realistas”, que usam como matéria prima apenas o que se refere ao presente ou ao passado de nosso mundo? Essa questão eu me imagino ser capaz de responder! (Alguma eu tinha de ser, não é?) Os autores realistas — em sua maior parte — diferem dos autores de Ficção Científica — em sua maior parte — e eu nem estou falando da Fantasia ainda — no que tange à natureza de suas elucubrações!

O Big Brother, de 1984, está vendo você.
Qualquer semelhança com o mundo real é mera coincidência.

Enquanto Arthur Clarke, Isaac Asimov e Ray Bradbury — e também os nossos, por que não?, Luiz Bras, Alexey Dodsworth e Carlos Orsi — elucubram a respeito do porvir, do que pode ser feito/restar/não restar de nossa civilização quando certas tecnologias ou ciências forem desenvolvidas ao extremo, os escritores como Graciliano Ramos, J. M. Coetzee, Marguerite Duras e Victor Hugo elucubram a respeito do que veem às suas voltas, sobre o nosso mundo real, sobre todas as injustiças e lutas individuais que exemplificam e caracterizam nossa sociedade. É indubitável que eles nos fazem rever com mais clareza nosso caminho sobre as pedras desse planeta — mas quais deles? O primeiro grupo, o dos sonhadores de mundos, ou o segundo, dos analisadores do mundo? Ha!, essa resposta eu também tenho: ambos! E qual é a importância da literatura de ambos para aquela pessoa do início, que está “cagando e andando” para o vietnamita que pinta cerâmica? Perceberam que essa resposta não é, de fato, importante? E tão desimportante quanto a pessoa que a questionou.

Eu sugiro, a título de conclusão, uma resposta talvez simples, e talvez inconclusiva como todas as respostas devem, na minha opinião, ser, e você pode concordar ou não:

As obras de ficção científica só são importantes na medida daqueles que as escreveram — exatamente como as obras e os escritores ditos realistas. As ideias são o que importa! A tríade escritor/ideia/obra talvez seja indissociável, e por isso ouso dizer que, se Ray Bradbury tivesse escrito, ao invés de seu Fahrenheit 451 o livro João e as couves de Bruxelas, contendo as mesmas ideias que o seu duplo de outra realidade, este é que seria importante. Bradbury é o responsável por aquilo, e sem ele, os livros não atingiriam seus 451° F e não nos trariam tantas reflexões a respeito de nosso próprio mundo, assim como sem Asimov a Eternidade não se ergueria sozinha, e ambas as obras não existiriam para nos fazer refletir sobre os erros de se tentar manipular e controlar a tudo e a todos. Assim, enquanto os escritores “realistas” nos mostram o que há de errado — e certo também, por que não? — com o nosso mundo, os escritores do “fantástico” nos mostram tudo aquilo que ele pode — ou não pode — se tornar, se nos descuidarmos ou se cuidarmos demais.

Arte inspirada em O planeta dos macacospor Marko Manev.

É claro que as estórias também têm sua cota de importância no peso final das obras; sem entretenimento, elas simplesmente não são lidas — mas estou certo de que é por suas ideias que elas, afinal, são e serão lembradas. Por aquelas ideias, surgidas das indagações, das elucubrações, das discussões regadas a café. Por aquelas ideias, de todos aqueles que elucubraram o suficiente para gravar magicamente nas páginas de um livro aspectos preocupantes das realidades presentes, passadas ou futuras, que já ou que nunca aconteceram nem acontecerão, mas que tiveram a coragem de pensar.

Pelas ideias daqueles que elucubraram.

sábado, 12 de setembro de 2015

Uma pequena observação sobre a cegueira religiosa


A observação é simples: Como é triste e desesperador perceber que, desde 1862 — ou seja, a meros cento e cinquenta e três anos atrás —, quando foi publicada a obra Os miseráveis, do genial Victor Hugo, as discussões são ainda as mesmas, e a mentalidade de tanta gente não evoluiu sequer um milionésimo de uma fração de uma medida imaginária qualquer.

Segue a prova, do Livro III: No ano de 1817, dessa obra:

"Duputryen e Récamier discutiam no anfiteatro da Escola de Medicina, e ameaçavam esmurrar-se, por causa da divindade de Jesus Cristo. Cuvier, um olho no Gênesis e outro na natureza, esforçava-se por agradar à reação carola, pondo os fósseis de acordo com os textos bíblicos e fazendo com que os mastodontes lisonjeassem Moisés."

Ultimamente esse tema tem me incomodado tanto que vou ter que escrever qualquer coisa sobre isso. Resta torcer para que o Estado Islâmico ou os "Gladiadores do Altar" ignorem os escritores insignificantes.