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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Um trecho marcante de Rubem Fonseca #2


Não dou muita bola para essa coisa de natureza, prefiro rua, casas, gente andando nas calçadas para lá e para cá, carros trafegando no asfalto, mas tem duas coisas que eu gosto: árvore e pôr do sol. Nascer do sol, também. Mas o problema do nascer do sol é que ele só é interessante durante poucos momentos. Minha mãe gostava de ópera, um dos seus cantores favoritos era o Enrico Caruso e ela gosta particularmente da matinata L'Aurora di Bianco Vestita, de Leoncavallo. Nessa música está dito o problema da aurora. Ela só é agradável de contemplar quando o sol, uma rutilante esfera vermelha, vai surgindo no horizonte, isso dura poucos minutos, logo em seguida a bola vermelha se torna em uma brutal fonte de luz branca, apoteótica, impossível de contemplar. É isso: quando a aurora se apresenta de bianco vestita ela fica muito bonita na música de Leoncavallo e na voz de Caruso, mas na vida real fica insuportável. Ao contrário, o pôr do sol vai ganhando beleza continuamente, como no poema de Keats a thing of beauty is a joy forever, its loveliness increases, como aquela beleza que eu estava contemplando, o pôr do sol, que nunca agride, a menos que considere uma forma de agressão a melancolia que invade você na hora em que o crepúsculo se instala no mundo antecedendo a noite.

Rubem Fonseca - O seminarista


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