““Quer uma menina para a noite? Ou prefere alguém mais experiente, alguém que esteja à altura de um homem como o senhor…?”
E escorregou a língua na orelha de Thornton, num prolongamento da palavra “senhor”.
A face do xerife corou inteira. Não ficou claro se por vergonha ou raiva. Ele se levantou, jogando a mão de Maria para o lado, e parado ficou, como para dizer algo, mas nada disse. Tentou exibir o maior desprezo que era possível apenas com o olhar, pois homem vivido era Thornton.
Ele sabia que naquela terra, que naqueles tempos, o que importava era o que os olhos diziam. Palavras não tinham significado para as pessoas. Eram mal utilizadas. Eram confusas. Eram pervertidas e profanadas por monstros que não sabiam o que fazer com a linguagem. O relevante estava na curvatura da sobrancelha, na tensão dos músculos da face, nas rugas que se formavam na testa. Na paisagem do rosto. Cada rosto era uma montanha
ou uma floresta
ou uma planície
ou um litoral
ou uma costa
ou um cânion
ou um deserto
como o que cercava Mavrak.”
Antônio Xerxenesky — Areia nos dentes
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