Embora eu não tenha lido tanto quanto o mês anterior, em que eu estava de férias, creio que foi um mês bom… Não consegui manter meu padrão de 1 livro por semana, mas não posso reclamar, porque estou lendo simultaneamente alguns livros de contos ou crônicas, que vão demorar um pouco a dar as caras por aqui… Assim sendo, vamos aos comentários das leituras do mês.
ROMANCES:
O primo Basílio entrou para o rol das obras que me surpreenderam porque eu nada delas esperava. O escritor, o português Eça de Queirós, faz jus à fama que tem: é um excelente escritor e igualmente talentoso contador de histórias. Inclusive, a trama do livro é mais “moderna" do que eu imaginava; cheia de reviravoltas, de detalhes dos bastidores da sociedade da época que eu julgava serem característicos do século XX, pelo menos, como neste trecho… E com um final bastante satisfatório — ao menos para o meu gosto. Um adendo sobre a modernidade da história: imagino que seja devido a Portugal ser um país bem mais velho que o Brasil, e, por isso, certos costumes que aqui pareceriam “um absurdo" à nossa sociedade conservadora são por lá tão anteriores… Ou não; pode ser que tais costumes somente não eram tão descritos em nossa literatura da época. Preciso estudar melhor essa questão. De qualquer forma, é um excelente livro. Achei melhor que o outro clássico que li recentemente, o Orgulho e preconceito. E essa capa que coloquei não é a da versão que eu li, é só porque ela é a mais bonita que encontrei. Não coloquei a da que li porque foi em um e–book de antologia das obras do Eça, a Obra completa de Eça de Queirós vol. I: Romances 1870–1880.
Eu, geralmente, fujo de livros quando há um hype sobre eles; assim, esperei a poeira baixar e as críticas se tornarem mais imparciais para decidir se leria ou não o Caixa de pássaros do escritor Josh Malerman. Como os leitores ainda estavam sendo favoráveis, resolvi encarar a tarefa e não me arrependi. No romance de suspense / terror psicológico, alguma coisa está deixando as pessoas loucas — alguma coisa que elas veem. Assim, todos começam a tapar as janelas e só sair nas ruas vendadas. Claro que isso, ao longo do tempo, destrói com qualquer possibilidade de sociedade organizada — muito a exemplo de Ensaio sobre a cegueira, do Saramago. Nesse livro, acompanhamos a mãe de duas crianças, e, em tempo real e em flashback, descobrimos o que ela está fazendo e como as coisas foram ficar daquele jeito — ou melhor, a visão dela de como as coisas degringolaram, o que, para mim, acaba sendo mais interessante. Mais duas coisas coisas me agradaram nesse livro: a escrita do autor, que, apesar de ser meramente uma ferramente para narrar a história, é simples e de fácil leitura, tornando a imersão fácil e prazerosa. A outra coisa que me agradou foi a escolha do autor de não mostrar, não explicar nada, mais ou menos como seria com qualquer um de nós se passássemos por algo como o que aconteceu ali. Não é o melhor livro de terror (ou suspense, sei lá) que eu li, mas fiquei, sim, angustiado em alguns momentos, e valeu muito a leitura.
Finalmente li esse clássico! Apesar de Fundação, do Isaac Asimov, não poder ser chamado de emocionante, para mim foi um livro muito interessante. Na história, é narrada a criação da Fundação, uma instituição destinada a minimizar o impacto de uma grande era negra da cultura a que o Império Galáctico fatalmente enfrentará. Essa grande crise foi “profetizada" — na verdade calculada pelo psico–historiador Hari Seldon, uma espécie de super–estatístico que, através de sua ciência, pôde prever com uma precisão assustadora o futuro da espécie humana, calculando inclusive variáveis psicológicas (daí o nome psico–historiador) na equação. Eu disse que o livro não é emocionante porque ele não se prende a personagens centrais; ao contrário, ele mostra três grandes momentos da Fundação, literalmente firmando suas bases para os próximos livros da trilogia. Certamente vou ler os seguintes, mas não estou com aquela pressa, justamente porque me pareceu mais uma leitura para conhecer um clássico completamente do que realmente por encantamento com a história.
CONTOS:
Obsolescência, do Alec Silva: Apesar da capa e da ideia do conto serem boas, eu tenho ressalvas em relação a ele. Se você, leitor, acompanha o blog há algum tempo, pode ter percebido que eu já estou relativamente cansado de distopias. Mês passado mesmo li uma que gostei, por isso o “relativamente”; não fechei a porta para elas. A questão é que, para mim, as distopias têm que 1. fazerem sentido; 2. não serem exageradas demais; e 3. não serem inocentes (às vezes esse item se mistura com o anterior). Enquanto o conto é muito bom no item 1, porque trata de uma sociedade onde todo mundo é obrigado a consumir, tendo o governo sido substituído pelo “mercado”, seja lá o que isso significar, e que aqui tem uma representação indissociável do governo regulamentador, gerando uma mescla de conceitos interessante , ele peca no item dois, e isso quebrou minha imersão, por ter — a meu ver — quebrado a verossimilhança (estou me referindo aos açougueiros, para quem já leu). Exageros desse porte me parecem demais numa sociedade civilizada, resvalando perigosamente no item 3… Além disso, o conto usa muito do “as you know, Bob” — o tropo do personagem que explica para outro algo que ele já sabe, mas que na verdade está explicando é para o leitor/expectador.
O Mercador de Sonhos, do M. M. Schweitzer: Essa é a minha segunda incursão ao universo de Morserus, e me deparei com mais um conto interessante! Apesar de eu ter esperado aprender mais sobre esse mundo fantástico, onde os humanos não existem e os animais, antropomorfizados, assumem seus lugares, o que se encontra nesse conto é a aventura ao subconsciente de um único personagem — Ollie, um porco de 15 anos de idade e cheio de traumas e sonhos, como qualquer adolescente. Acaba sendo uma fábula muito criativa e bem escrita, descontados os errinhos de revisão. No entanto, parece–me que o autor teve a ideia para uma história “genérica” — não no sentido ruim, mas no sentido de uma história que poderia se passar com qualquer pessoa — e decidiu ambientá–la também em seu universo. Isso não traz qualquer problema; muito pelo contrário — só reforça ainda mais meu desejo de aprender mais sobre esse mundo. (Aliás, pensando aqui sobre esse conto e sobre o anterior que li, o Banquete para fantasmas… Será que é assim que o autor vai apresentar seu mundo, em todos os contos — pequenos drops, histórias pontuais que mostram só uma peça do quebra–cabeças de cada vez…? Interessante se for…)
O Mercador de Sonhos, do M. M. Schweitzer: Essa é a minha segunda incursão ao universo de Morserus, e me deparei com mais um conto interessante! Apesar de eu ter esperado aprender mais sobre esse mundo fantástico, onde os humanos não existem e os animais, antropomorfizados, assumem seus lugares, o que se encontra nesse conto é a aventura ao subconsciente de um único personagem — Ollie, um porco de 15 anos de idade e cheio de traumas e sonhos, como qualquer adolescente. Acaba sendo uma fábula muito criativa e bem escrita, descontados os errinhos de revisão. No entanto, parece–me que o autor teve a ideia para uma história “genérica” — não no sentido ruim, mas no sentido de uma história que poderia se passar com qualquer pessoa — e decidiu ambientá–la também em seu universo. Isso não traz qualquer problema; muito pelo contrário — só reforça ainda mais meu desejo de aprender mais sobre esse mundo. (Aliás, pensando aqui sobre esse conto e sobre o anterior que li, o Banquete para fantasmas… Será que é assim que o autor vai apresentar seu mundo, em todos os contos — pequenos drops, histórias pontuais que mostram só uma peça do quebra–cabeças de cada vez…? Interessante se for…)
Olá, me chamo Bruno.
ResponderExcluirAcabei de ouvir o podcast do Livrocast #71 A Estrada. Adorei o filme, não li o livro ainda. E gostei também do programa.
Vim procurá-lo quando você comentou no podcast que gosta muito do tema pós apocalipse, distopias e sobrevivência humana. Também sou aficionado pelo tema.
Fiquei apreensivo quando li agora que você já está cansado de distopias, mas imagino que você já tenha lido quase todos os bons, ai tens que garimpar mais para achar um que agrade.
Enfim, parabéns pelo conteúdo produzido.
Olá, Bruno!
ExcluirNão é que eu tenha lido todas as boas — acho que não estou nem perto disso —, mas tenho a impressão que elas vão se repetindo… como, aliás, acontece com todos os gêneros e livros que fazem sucesso, geram um monte de repetidores, mas acho que, por ser um nicho dentro de um nicho (a distopia dentro da ficção científica), acaba exigindo mais do autor que quer criar algo novo… Nesse mesmo post tem um exemplo de um que conseguiu: o Josh Malerman com seu “Caixa de pássaros” :)