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sábado, 6 de maio de 2017

Memória da água, de Emmi Itäranta


É possível se escrever um romance baseado especialmente em um clima, no sentido de sentimento, vibe, atmosfera? Porque me parece que foi isso o que aconteceu com Memória da água, da finlandesa Emmi Itäranta.


.: Este é segundo livro do Desafio Literário do Marcador de Páginas, de um total de 7 livros, e é o item “Um livro com um dragão na capa”! :.

No mundo retratado por esse livro, finalista do prêmio Philip K Dick, como vocês podem ver na imagem, a China é a grande potência dominadora de um mundo que sofre da total degradação das fontes de água potável. A história se passa primariamente na União Escandinávia, território agora pertencente ao Novo Qian, e mesmo aquele lugar, hoje terra de lagos, é um desertão sem fim. Como o regime vigente é o militarista, são eles, os militares, que controlam todas as (poucas) fontes de água existentes — assim como a história que é contada aos civis, onde todo o passado do mundo foi obliterado dos registros.

E é aí que entra o drama da família Kaitio — o pai, o Mestre do Chá; a mãe; e a menina Noria, a protagonista e narradora. A profissão do pai — realizar tradicionais cerimônias do chá — exige água, e todos nessa sociedade têm cotas muito restritas. O centro da trama é a chegada das investigações ostensivas do exército a esse lugar, e o clima de opressão que as pessoas passam a sentir nesse momento, justamente o momento em que o pai está passando os segredos da arte à filha.

O livro todo é escrito num belo e tocante tom melancólico, que fala de tempos que não mais voltarão, de coisas que foram perdidas em tempos mais prósperos, de felicidades que parecem ser utópicas demais para serem alcançadas. A prosa é muito bem escrita; a autora domina completamente o ritmo e a intenção de seu texto, e ainda que alguns leitores possam dizer que a trama demora a avançar, deve–se ter em mente que não é esse o objetivo; parece–me ser muito mais causar no leitor o estado de espírito necessário para compreender a amplitude do sofrimento dos moradores daquele regime.

É impossível não sentir a tristeza desoladora e impotente da protagonista quando as coisas lhe acontecem — os destinos da mãe, do pai, da amiga, do seu próprio. Memória da água passa uma mensagem preocupante e necessária, e ter chegado até aqui, vindo da Finlândia — caminho incomum de ser percorrido — é um alento, ainda que a obra não pareça ser tão conhecida. Merece demais a leitura, especialmente por me parecer estarmos encaminhando para um mundo muito semelhante ao nela retratado — a desertificação e a dominação por regimes totalitários com a manipulação da história oficial.

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