.: Este é o primeiro livro do Desafio Literário Clube de Autores, de um total de 7 livros! :.
Quando eu me propus a iniciar esse desafio, de ler obras autopublicadas pela plataforma Clube de Autores, confesso que imaginei que encontraria apenas obras cruas. (Supremo egocentrismo de minha parte? Estaria eu achando que somente a minha obra estaria bem finalizada? Que feio…) Assim sendo, comprei o Zé Calabros na Terra dos Cornos porque achei que seria a mais divertida para começar, e caí do cavalo com meus preconceitos, porque o livro é um puta livro bom.
Acertei, pelo menos, na parte do divertido — pensem num livro engraçado e com cenas hilárias…! A história acompanha o personagem principal, o Zé Calabros, desde o momento em que ele salva um “náufrago” que está prestes a morrer afogado, e passando pelos principais momentos do passado do protagonista, que o levaram a ser quem é. Acontece que o tal náufrago é uma moça, Mara'iza, de um império distante e, assim com a terra de Zé, a Cornália, é análoga ao nosso Nordeste, a de Mara é análoga ao Japão — mas, ainda assim, tudo com um curioso toque de nordeste, e isso é muito bem construído. Aliás, a construção de mundo do autor, Tiago Moreira, é incrível. Além de ele escrever muito bem, criou uma terra fantástica, cheia de criaturas mágicas conhecidas, mas que têm um quê muito peculiar — e muito arretado. Como eu disse, tudo aqui cheira a Nordeste — as partes boas e as partes ruins dele —, e é tudo tão bem amarrado, tão bem descrito e “climatizado” que a verossimilhança e a veracidade que o Tiago passam são irretocáveis. Esses dois personagens são vivos, cheios de personalidade, fortes e humanos… mas não é só na construção dos heróis que o autor brilha — seus vilões, os cangaceiros, são memoráveis.
O principal deles é o Severino Barrida D'Água, o Rei do Cangaço, mas não é o único bem construído: temos os ótimos Petrúquio Fragoso, Velho Tição e sua Sônia Regina, Virgulino Cornoaldo, Chassi de Grilo… Cada um com suas particularidades e motivos.
(E existem ainda os excelentes e cômicos Svar e Brunnhardt, de nomes tão diferentes do que é visto no livro e dos quais não vou falar muito para não estragar a surpresa, além dos secundários que também têm arco narrativo importante.)
Mas acham que são somente os personagens, a construção do mundo e a escrita os pontos fortes do livro? Pois estão enganados. A trama também é muito bem trabalhada; o caminho dos personagens está entranhado com o background de forma muito bem–feita e, apesar de o livro ter quase 500 páginas, não senti “barrigas” em lugar nenhum. Tudo o que está lá tem motivos, dos flashbacks aos diálogos, das pausas para os descansos às batalhas… e aqui eu quero pontuar mais um ponto forte da obra: as próprias batalhas. O Tiago Moreira não perde tempo narrando trivialidades, mas descreve tudo o que tem que descrever para deixar as cenas de luta — tanto um–a–um como em defesa de cidades — cinematográficas, verossímeis e emocionantes ao mesmo tempo. Destaco três delas: a contra o dragão (sim, há dragões!); a em defesa da cidade de Bota do Judas; e a invasão de São Vatapá do Norte. Aliás, mais uma coisa divertidíssima: os nomes das cidades! Curva do Vento, Bota do Judas, Beira da Larica, Meu Jisuis Cristin, Meiducamin, Meidunada… Excelente! E cinematográfica também é a cena da chegada dos quatro cavaleiros a São Vatapá do Norte.
Mas, calma lá, Rahmati; falando assim, parece que a obra não tem pontos fracos… E então eu digo: não tem mesmo! Não estou brincando; posso colocar o Zé Calabros na Terra dos Cornos quase em pé de igualdade com as obras de fantasia que mais curti nos últimos anos, como O inimigo do mundo e O caçador de apóstolos do Leonel Caldela, ou o Mistborn: O império final do Brandon Sanderson… Tiago Moreira tem tudo para se consolidar como um grande autor nacional de fantasia — é só não deixar, na minha opinião, todo esse brasileirismo que ele apresentou em Zé Calabros de lado nas continuações, que parece que existirão, já que o volume traz o subtítulo As crônicas anímicas na capa… (Bom, para falar a verdade, existe uma ressalva: há um viés político na obra — que não me incomoda muito, por eu não discordar totalmente dele, mas ele está lá. Alguém mais sensível a esse posicionamento pode se incomodar, mas essa é, afinal, uma escolha consciente do autor, e deve ser respeitada (e repito: não tira nadica de nada do mérito da obra)).
Enfim — parabéns para o Tiago Moreira por uma obra de estreia tão incrível, e só torço para que ele seja reconhecido, consiga muitos leitores e continue trazendo aventuras do Zé e da Malinha :D
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