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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Algumas observações sobre a criação literária


Um grande escritor, Raymond Chandler, do qual infelizmente li somente uma obra — A dama do lago —, fez uma observação muito interessante (e muito válida) sobre os detalhes que verdadeiramente interessam e que prendem a atenção do leitor:
"Minha teoria é de que os leitores apenas pensam que o que lhes interessa é a ação. Na verdade, embora não saibam, ligam muito pouco para isto. O que os atrai, e me atrai, é a criação de emoção através de descrição e diálogo. O que eles lembram, e que não sai de sua cabeça, não é, por exemplo, que um homem foi assassinado, mas que no momento de ser morto ele estava tentando pegar um clip na superfície polida de sua mesa, e o clip escapulia dos seus dedos, de modo que havia uma contração no seu rosto e sua boca estava entreaberta numa espécie de sorriso tenso, e a última coisa que passava pela sua cabeça naquele instante era que iria morrer. Ele nem sequer escutou alguém batendo à porta. O maldito clip continuava escapulindo dos seus dedos e ele teimava em não querer empurrá-lo até a borda para fazê-lo cair sobre sua mão aberta."

O escritor Braulio Tavares (do qual comprei por esses dias duas obras  A espinha dorsal da memória e Mundo fantasmo —, mas que ainda não li) também teceu considerações acerca desse tema:
"Esses detalhes circunstanciais tornam uma cena algo único, e portanto algo mais vívido e mais verdadeiro. Leitor burro é inseguro, precisa encontrar a todo instante uma confirmação do que já sabe  se o cara que vai morrer é um milionário, por exemplo, ele não pode estar pegando um clip, tem que estar contando dinheiro, ou algo assim. O leitor inteligente sabe que muitos momentos de nossa vida se concentram assim, em detalhes totalmente insignificantes, que passam a significar não pelo que são, mas pelo foco que nossa atenção lhes concede."
"Sem contar que muitos gênios em potencial não comungam dessas certezas. Criam, mas não creem; criam massacrados pela descrença em si próprios. Kafka, nos seus Aforismos, diz: 'Antes eu não entendia por que não recebia nenhuma resposta à minha pergunta, hoje não entendo como podia acreditar que era capaz de perguntar. Mas realmente não acreditava, só perguntava'. Hoje em dia, numa época de Egos bombados a poder de esteroides, duvidamos que alguém possa criar uma obra de peso baseada na dúvida e na insegurança, mas não há dúvida de que muitos criaram assim, criaram quase a despeito de si próprios."

Essa segunda citação dele é muito importante. Temos muitos escritores atuais que se acreditam a salvação da lavoura  ou pelo menos se acreditam bons o bastante para não precisarem de uma edição dura e uma boa dose de autocrítica. Que escrevem com certeza, ao invés de, como disse Tavares, usarem a dúvida como combustível para suas criações.

Creation, arte de Justin R. Christenbery

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