"Então é isso, pensei. Foi minha revelação. O meu "eu" no espelho parecia agora o policial — surgia nas minhas costas a mesma sombra que envolvia aquele homem que se convertera num hidrante de sangue. Eu era um anjo negro, com asas retorcidas que se dobravam e se contorciam e me engolfavam, exatamente como as dele. Antes, eu sofri muito até descobrir que somente eu via aquelas coisas, mas apenas naquele momento eu percebi o que aquilo significava.
Se eu fosse um cara diferenciado, teria tido uma iluminação divina, um insight, e teria decidido mudar minha vida, ajudar os outros... Mas a única coisa que realmente pensei naquele momento foi: Cara, vou ganhar muito dinheiro com isso. E ganhei mesmo.
Estudei melhor minha habilidade — o dom que Deus ou o Demônio me deram —, até que eu pudesse entender cada nuance, cada variação das sombras, e procurei meu primeiro "cliente" assim que acabou a época da escola — o prazo que me dei para ambos os estudos. Não foi necessária muita análise; os telejornais mostraram as complicações que o delegado estava enfrentando com criminosos — ou, numa interpretação mais realista, a sua incompetência em negociar com os bambambãs da cidade —, então ficou claro o meu primeiro objetivo: voltar à delegacia."
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