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sábado, 5 de novembro de 2016

Grande irmão, de Lionel Shriver


Dá para gostar de um livro sem gostar de seu final? Ou é uma experiência completa — o livro todo, sendo impossível dissociá–lo de seu meio, ou início, ou final…?

Porque esse foi o caso —e já aviso que esse post TEM SPOILERS— do romance Grande irmão, da escritora Lionel Shriver. Detalhe importante: esse spoiler é do tipo que arruina a leitura.

Continue por sua conta e risco.



Até a última parte do livro minha nota era 4 estrelas de 5 no Skoob. Estava lendo uma estória muito humana, muito bem escrita, muito verossímil… até a autora dizer que todo o segundo terço do livro foi mentira. Que as coisas aconteceram de modo diferente, e que ela até ia contar do jeito que ela acharia melhor, mas acabou desistindo. (Que fique entendido: a autora que disse isso foi a autora dentro da estória, não a Shriver. O que, afinal, dá na mesma.) Porra!, por que não manteve a mentira? Me foi tão brochante quanto o clássico caso de perder tempo —porque sim, é essa a impressão que tenho— lendo uma história incrível e depois descobrir que foi tudo um sonho do protagonista.

Vamos lá. Eu entendo que não é o mesmo caso. Que, no caso do sonho, o protagonista não foi do ponto A ao ponto B; que não teve evolução alguma. Esse não é o caso de Grande irmão. A personagem principal, Pandora, decide inventar a história por conta da desilusão que teve com o irmão, Edison, que precisava de ajuda com sua saúde —com seu problema de obesidade— e não queria ser ajudado. Ela inventou uma trama onde isso acontecia, e essa parte é muito boa. Os desdobramentos desse sacrifício na vida pessoal da personagem ajudam a nos solidarizarmos com ela e com o irmão; os personagens secundários são muito bem desenvolvidos; as conquistas e também os aspectos psicológicos disso tudo são muito verossímeis… mas, mesmo dentro de uma estória (logo, fictícia) isso também não aconteceu — foi mentira. Seria ironia dizer que tive a impressão de ter perdido tempo por ler algo que não aconteceu quando estou lendo uma ficção…?

Quando sabemos que o narrador não é confiável, já entramos na leitura com a consciência de que algo ali ou não aconteceu bem daquele jeito ou foi inventado — só que, neste caso, estamos falando de algo, não de 50% do livro. Mas, mais uma vez entendam: o que foi lido não é ruim. Não mesmo. Lionel Shriver escreve muito bem, tanto que já coloquei Precisamos falar sobre o Kevin na minha lista de “quero ler”, mas eu honestamente preferia ter sido completamente enganado quanto à história de Edison e Pandora e não saber disso.

É para isso que leio ficção.

Para ser enganado e achar que aquilo tudo realmente aconteceu.

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