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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Um trecho marcante de China Miéville


— Bem, depois de descobrir quão pouco sabe sobre eles, acho bom parar de falar com você — disse Isaac.
E para seu espanto, o queixo de Ged caiu.
— Brincadeira, Ged! Ironia! Sarcasmo! Você sabe uma caralhada de coisas sobre eles. Ao menos comparado comigo. Eu estive folheando Shacrestialchit e você acaba de me dizer mais do que eu sabia sobre o assunto. Sabe algo sobre... ahn... o código penal deles?
Ged o encarou. Seus imensos olhos se estreitaram.
— O que você está aprontando, Isaac? Eles são tão igualitários... bem... a sociedade deles é toda baseada em maximizar a escolha para o indivíduo, e é por isso que eles são comunísticos. Isso garante a mais livre escolha para todos. Pelo que me lembro, o único crime que eles têm é privar outro garuda de escolha. E isso pode ser acentuado ou atenuado, dependendo de ter sido feito com ou sem respeito, coisa que eles absolutamente adoram...
— Como se rouba a escolha de alguém?
— Não faço ideia. Suponho que, se você quebra a lança de alguém, isso significa privar a pessoa de usá–la. E, se você mente sobre a localização de algum líquen gostoso, pode privar outros da escolha de ir pegá–lo... 
— Talvez alguns roubos de escolha sejam analogias de coisas que consideramos crimes e outras não tenham absolutamente nenhum equivalente — disse Isaac.
— Suponho que sim.
— O que é um indivíduo abstrato e um indivíduo concreto?
Ged encarava Isaac, maravilhado.
— Caralho, Isaac, você fez amizade com um garuda, não fez?
Isaac ergueu uma sobrancelha e assentiu rapidamente.
— Filho da puta! — Ged deixou escapar, e as pessoas das mesas ao redor se voltaram para ele com uma leve surpresa. — E um garuda do Cymek! Isaac, você tem que fazer que ele... ele?... ela?... venha falar comigo sobre o Cymek!
— Não sei, Ged. Ele é meio... taciturno.
— Ah, por favor, por favor...
— Tudo bem, tudo bem, vou pedir a ele. Mas não espere grande coisa. Agora me diga qual é a diferença entre uma porra de um indivíduo abstrato e outro concreto.
— Ah, isso é fascinante. Imagino que você não tenha permissão de me dizer qual é o trabalho... É, achei que não teria. Bom, simplificando, e pelo que entendo, eles são igualitários porque respeitam demais o indivíduo, certo? E você não pode respeitar a individualidade de outros concentrando–se em sua própria individualidade de forma abstrata e isolada. A questão é que você só é um indivíduo enquanto estiver inserido numa matriz social composta por outros indivíduos que respeitam sua individualidade e seu direito de fazer escolhas. Isso é a individualidade concreta: uma individualidade que reconhece que sua existência se deve a uma espécie de respeito comunal da parte de todas as outras individualidades e que, portanto, é melhor respeitá–las da mesma forma. Assim, um indivíduo abstrato é um garuda que esqueceu por um tempo que é parte de uma unidade maior e que deve respeito a todos os indivíduos que escolhem."

China Miéville – Estação Perdido


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