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domingo, 4 de fevereiro de 2018

Estação Perdido, de China Miéville


Já acho complicado falar sobre coisas de modo não–ficcional; sempre acho que deixo passar coisas importantes em detrimento de aspectos menos relevantes, mas que me chamaram a atenção… Como falar sobre, então, um livro que já — com facilidade — entrou, de cara, no meu Top 10 de livros da vida…? Pois é: Estação Perdido é bom a esse nível.


Estação Perdido me agrada em diversos níveis, a exemplo do que acontece com minhas outras obras preferidas. Vou tomar como exemplo O senhor dos anéis: Ao mesmo tempo em que a escrita contemplativa e épica de Tolkien me acalma, gosto da construção (simples) dos personagens; do cenário, rico e com tons de sonho; da amizade construída entre eles; da grandiosidade da história e ao mesmo tempo da pequenez do personagem principal e da mensagem que isso passa ao final. Outro exemplo: Deuses americanos. Gosto do mundo; gosto do personagem principal, ainda que o critiquem, mas gosto justamente por sua passividade — por sua “deboice", tão semelhante à minha —; gosto da estrutura de “road movie”; gosto dos contos intercalados; gosto da pausa no meio, para apresentar a vida e o mistério daquela cidadezinha pacata… Assim como em A estrada: Gosto da escrita do Cormac McCarthy; gosto dos personagens; gosto do mundo, cru, seco, cruel… E aqui, nessa história de China Miéville, gosto do mundo, dos personagens, da trama, das surpresas, da mescla de gêneros literários… Resumidamente: gosto de tudo.

Começando pelos personagens: são ricos em construção de personalidade como em poucas obras por aí. Todos seguem a lógica real da humanidade (mesmo que não sejam humanos na acepção estrita da palavra): têm vontades e seus esforços são em prol de realizá–las. O protagonista, Isaac Dan der Grimnebulin, é um humano de meia–idade, gordo e negro, cientista e que vive à margem do sistema, que vive um romance proibido com uma mulher de outra espécie, Lin, uma khepri — praticamente uma humana com cabeça de besouro —, que é uma artista excluída de seus iguais. Por aí já podemos ver que não acompanharemos heróis, reis ou nobres, como seria esperado em uma história “padrão” de fantasia.

Aliás, deslocado é uma boa palavra para falar dos personagens de Estação Perdido. Todos os são, em diversos níveis. Além da dupla principal, temos o garuda Yagharek, que foi condenado pelos seus e fugiu, procurando Isaac para ajudá–lo a reverter os danos dessa condenação; e ainda Derkhan, uma amiga humana deles, que participa de um grupo revolucionário contra o governo. Até mesmo os antagonistas da trama — o monstruoso “contratante” de Lin e as cinco mariposas — são deslocados e sozinhos, procurando seu lugar no mundo. Essa parece ser a tônica da cidade de Nova Crobuzon, onde se passa a trama — um aglomerado de pessoas deslocadas, sozinhas, literalmente perdidas em uma rotina sem sentido.

A trama é outro aspecto que vai por caminhos inesperados. Apesar de começarmos acreditando que é no trato de Isaac e Yagharek que o livro vai prosseguir, é no desdobramento inesperado que isso ocasiona que o livro realmente tem seu prosseguimento — e acreditem em mim: não “sobra” nada em suas 608 páginas; tudo ali está bem colocado, tem sua função narrativa ou para dar mais verossimilhança ao mundo de Bas–Lag. Claro que algumas pessoas irão encontrar — imagino — “excesso de informação”, mas não foi o meu caso. Tudo o que me foi ali descrito por Miéville foi delicioso de ler — e, coisa que pouco me acontece hoje em dia, deixa, até agora, mais de um mês depois da leitura, uma espécie de saudade ou vontade de retornar àquele universo. É por isso que pus o Estação Perdido no meu “top da vida”: ele deixou marcas, em meio a tantas obras mais ou menos semelhantes que existem por aí e que são lidas e esquecidas logo em seguida.

Que venham logo para o Brasil as outras obras que se passam no mesmo mundo de Bas–Lag, chamadas The scar e The iron council, ainda sem tradução mas já confirmadas pela editora Boitempo.

E que venham também todas as outras obras do autor!

Nova Crobuzon, na visão do artista Thomas Chamberlain
Homens–cactos, outra raça das várias de Nova Crobuzon, pelo artista JP Cokes
Yagharek e Lin (não encontrei o nome do artista)
Isaac Dan der Grimnebulin, pelo artista Lipatov
E, por fim, esse incrível figurino de Isaac e Lin — ao que me parece, de um trabalho de conclusão de curso para uma escola de teatro, executado pela artista Anastasia Prokonova

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