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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Geração subzero, organizado por Felipe Pena


Uma das coletâneas que eu mais queira ler era a Geração subzero: 20 autores congelados pela crítica, mas adorados pelos leitores, organizada pelo jornalista, escritor e professor Felipe Pena e publicada pela editora Record. Outras que certamente estarão em minha estante são a Solarpunk, as Imaginários, as Space opera e a Fantasias urbanas, além das que eu já tenho Year's Best SF8, que não foi lançada aqui no Brasil, tratando-se de uma pesca dos melhores contos de FC publicados nos EUA no ano de... sei lá, no passado, e a Wild Cards, compilada pelo serial killer George Martin.


Felipe Pena organizou esse livro com base em outro, onde foi-se definida a "geração 00" da literatura, os "melhores" escritores surgidos no Brasil depois da virada do milênio, num esforço elitista ridículo. Ele, então, criou o trocadilho da geração subzero, dos autores congelados pela crítica especializada. Ele mesmo, ainda, garante que não é uma antologia, não é uma seleção de "melhores" ou qualquer babaquice dessas, mas apenas uma seleção de contos dos autores que estão sendo falados pelas internets da vida. Assim, temos um conto de praticamente cada gênero possível, tão variados em suas estruturas quanto em suas qualidades.

Assim sendo, vou deixar meus breves comentários — atenção ao itálico — sobre o que achei ou senti sobre cada um dos contos.


1. O cão, de Juva Batella. Um conto humorístico, light, bom pra começar de forma despretensiosa, como o organizador se propõe. Bem escrito. Não conhecia o autor antes, mas agora estou aberto e lê-lo novamente. 3/5.

2. Cristais de prata, de Pedro Drummond. Esse eu achei muito bom, de verdade. Gostei da revelação do final, um conto mais longo bem construído, exemplar mesmo. 4/5.

3. A canção de Maria, de André Vianco. Nunca gostei do estilo de escrita do Vianco, e não foi dessa vez que mudei de opinião. Sequer acabei de lê-lo. Compreendo a importância do autor, foi ele quem abriu as portas da literatura fantástica no Brasil, mas não é pra mim. 1/5.

4. Na maternidade, de Thalita Rebouças. Apesar de nunca tê-la lido, já sabia da qualidade da autora. Um conto curtinho, realista e simples, e demonstra a habilidade da autora em se colocar na pele de um homem. 4/5.

5. Fogo e trevas, de Eduardo Spohr. Outro que não é pra mim. Acho a escrita dele muito empolada, muito cheia de clichês, e esse conto não apresentou nenhuma emoção pra mim. Também é um autor essencial na crescida da fantasia no país, mas... Enfim. 2/5.

6. O índio no abismo sou eu, de Luiz Bras. Esse autor eu já tinha lido sobre, e que ele era foda. Só não imaginava que era tão foda assim. Sinceramente, o melhor conto do livro. Até adquiri um livro do Bras, o Paraíso Líquido, uma coletânea de contos dele, depois de ler essa obra-prima da ficção científica. 5/5.

7. A filha do diabo, de Luis Eduardo Matta. Já conhecia o autor pelo podcast Ghost Writter, mas nunca tinha lido nada dele  assim sendo, fui surpreendido positivamente. É um conto muito divertido, meio terror, meio suspense, e com um final interessantíssimo. 4/5.

8. Dê-me abrigo, de Sérgio Pereira Couto. Um conto interessante. Sem muitas emoções, pelo menos pra mim, mas valeu a leitura. 3/5.

9. Ao cortar os cordões, de Estevão Ribeiro. Esse é curioso. Instigante, meio maluco, e acho que foi por isso que gostei. 4/5.

10. O primeiro dragão, de Raphael Draccon. O estilo do autor é bem próprio dele, e devo admitir que não consigo me acostumar 100%, parece que não consigo imergir completamente na história. O estilo chama mais a atenção do que a trama, e acho que isso não é exatamente positivo... De qualquer forma, é um conto que se passa no meu amado mundo de Arton, do cenário brasileiro Tormenta, e acaba sendo, no final das contas, um conto muito bom. 4/5.

11. O preço de uma escolha, de Ana Cristina Rodrigues. Um conto policial num futuro típico de ficção científica. A ambientação é interessante, mas a trama não me trouxe muitas emoções, além de ter sido meio clichê. 2/5.

12. Polaco, de Julio Rocha. Esse conto é muito divertido! Curtinho e eficiente. Parabéns pro autor. 4/5.

13. Para sempre em um dia, de Helena Gomes. Gostei muito desse também, tem uma aura de A lenda do cavaleiro sem cabeça muito gostosa de se imergir. É bem possível que eu procure algo mais da autora. 4/5.

14. Outra vez na escuridão, de Carolina Munhóz. Confesso que comecei a ler cheio de preconceitos, mas me impressionei. A escritora é realmente muito boa, e suas fadas não parecem nada com o que se pode imaginar desses seres. Parecem seres saídos dum conto de Lovecraft, quase. E a revelação de sobre o quê se trata o conto é muito legal! Eu descobri  ou pelos menos supus  já pelo meio do conto, mas o finalzinho é perfeito. 4/5.

15. A sabedoria de Clementina, de Vera Carvalho Assumpção. Um conto interessante, mas temo não poder dizer que o achei muito mais do que isso. Poderia dizer que é bom até; sua trama é interessante. 3/5.

16. Entrevista com o Saci, de Martha Argel. Gostei muito desse; criativo, inventivo, reinventivo  e se essa palavra não existe acabo de inventá-la  e bem escrito. Quase uma fábula, ou uma fábula sem o quase. Só não dou uma nota maior porque tenho que pôr o conto do Luiz Bras acima dos outros. 4/5.

17. Outras onomatopeias, de Janda Montenegro. Confesso que não entendi bem esse, e se entendi, não curti muito. 2/5.

18. O escritório de design probabilístico, de Delfin. Esse é muito inventivo! Aliás, com um nome desse, a probabilidade de ser um conto legal era muito alta, e se confirmou! Instigante, e o final é excelente. Queria a continuação dele em um romance, hehe. E procurarei mais coisas do autor. 4/5.

19. Um chá com Alice, de Eric Novello. O romance Neon Azul do autor já está na minha lista de "quero ler" somente pelos bons comentários sobre ele, e, definitivamente, continuará lá. É um conto tão maluco e interessante quanto a obra original de onde a personagem foi retirada. 4/5.

20. A Lua é uma flor sem pétalas, de Cirilo S. Lemos. Outra boa surpresa, ótimo para finalizar o livro. Um futuro distópico, uma ficção científica crua e bruta, e, infelizmente, bastante realista. O mais longo do livro, e mereceu seu posto de encerrador dessa coletânea. 4/5.


Como média, a nota final foi 3,45 num total de 5, mas o resultado final, residual, me parece tão positivo, no sentido de elencar todos esses autores bons e relevantes, que vou arredondar a nota para cima. Vale, sem dúvida, cada centavo e cada minuto gastos na coletânea — e, claro, suas avaliações podem ser (e provavelmente serão) bem diversas das minhas.

Então, sr. Felipe Pena e editora Record, fico aguardando o Geração subzero 2, ok?


««««/5

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