O volume 3 foi o primeiro das incríveis coletâneas Imaginários da editora Draco que consegui ler. Como os outros volumes, são contos de fantasia, ficção científica e terror, sempre de autores nacionais — como é o procedimento dessa editora. Achei o resultado desse volume muito positivo, e, no geral, fui surpreendido! Assim, sem mais enrolação, vamos às (breves) análises dos contos.
1.º: A torre das almas, de Eduardo Spohr.
Um conto passado no universo ficcional de A batalha do Apocalipse, do autor. Mostra uma aventura curta, com a solução de um "caso policial" pelos celestiais infiltrados no mundo físico — mas sem emoções e sem fatos intrigantes. Como esse volume 3 é de 2010, espero que o autor tenha melhorado também sua escrita depois disso, porque tem muito tell e pouco show (da pérola estilística "show; don't tell" — mostre; não conte). Dava para ter contado tudo o que ele queria contar sem tanta explicação gratuita, mas... De qualquer forma, serve como introdução ao seu universo. E para mim já foi o suficiente.
Nota 2 de 5.
2.º: Um breve relato da ascensão do Papa Alexandre IX, de Marcelo F Assami.
Um conto interessante. Bom. A narrativa de uma sucessão papal nada convencional (ou seria...?), com um algo a mais. O escritor mostra bastante ao invés de contar, e isso é ótimo. Dá a sensação de que estamos deixando passar algo despercebido. Interessante também ele usar os sobrenomes de escritores (inclusive o dele próprio) para seus personagens; apesar disso ser bastante feito por aí (até eu já fiz), sempre é legal.
Nota 3 de 5.
3.º: As noivas brancas, de Rober Pinheiro.
Um conto muito legal. Uma aventura de resgate, num cenário de ficção científica, com toques de psicodelia engraçadíssimos. Vale ressaltar que Rober escreve muito bem.
Nota 3 de 5.
4.º: Bonifrate, de Douglas MCT.
Conto de ficção científica muito bom! O autor conseguiu aqui, nessa releitura de um conto popular, criar um mundo muito mais interessante do que o da outra outra que li dele, Necrópolis. Lembrei-me de um filme de que gostei muito — o Inteligência artificial —, então isso deve ter ajudado na apreciação da obra. Muito bem escrito também.
Nota 4 de 5.
5.º: Dies irae, de Lidia Zuin.
Conto de ficção científica regado a drogas e perseguições. Escrita muito boa; uma protagonista sem chance de redenção ou ajuda possível; um final, pelo menos para mim, enigmático — e, não sei bem dizer por quê, mas histórias sobre a decadência humana são sempre atrativas.
Nota 3 de 5.
6.º: Vida e morte do último astro pornô da Terra, de Marcelo Galvão.
Conto compacto e excelente! Criativo na forma e com uma virada interessante no final; muito bem escrito e com um tema mais profundo do que aparenta. Apesar do nome... suspeito, digamos, é o melhor conto da coletânea.
Nota 5 de 5.
7.º: Corre, João, corre, de Cirilo S Lemos.
No começo, dá de se pensar onde estará o elemento fantástico desse conto, mas tudo muda do meio para o fim, quando a história dá uma guinada e o ritmo, que já estava agitado, se torna frenético e agoniante. Ótimo. Não podia ser diferente; quando vi que seria uma história desse autor, já imaginava que não ia me decepcionar.
Nota 4 de 5.
8.º: Uma segunda opinião, de Fernando Santos de Oliveira.
Um conto de vingança estudantil, com um "quê" de Carrie, a estranha. A escrita é, claramente, de um autor iniciante (tanto que sua biografia ao fim do livro não cita outros títulos), e o tema não me prendeu; achei até meio bobinho, inocente. Esse é o mais fraco da coletânea.
Nota 2 de 5, porque o final foi interessante e diferente do que esperava.
9.º: Maria e a fada, de Ana Cristina Rodrigues.
Conto interessante, bem escrito, com uma ambientação medieval que me agradou bastante. Tem uma aura mágica e o jeito da autora contar a história ajudou muito na trama relativamente simples.
Nota 3 de 5.
10.º: O primmeiro contacto, de Fábio Fernandes.
Conto muito criativo na forma — o autor escreve como não fosse ele o autor do conto; como se este tivesse sido encontrado num sebo, escrito por um suposto Dr. Eleutherio Penna Filho, pseudônimo de um artista desconhecido, no ano de 1929 —, mas nem tanto na trama. Ok, o conto tem que ser encarado como se tivesse realmente sido escrito antigamente, então a trama está adequada — até mesmo a "inocência" relativa às viagens espaciais é justa, porque faltariam ainda décadas para o início das aventuras espaciais da humanidade. A ortografia também simula a escrita antiga; no entanto... as contruções frasais não convencem. Não sei dizer por quê, mas o... linguajar?... estilo?... algo me incomodou. Talvez seja o estilo mesmo; os "cortes" da cena parecem muito modernos, muito dinâmicos. Antigamente as narrativas eram mais lentas, mais descritivas, menos cinematográficas... Enfim; de qualquer forma, é um conto muito bom para o que propõe. Usa personagens históricos (outro recurso que também acredito ser mais moderno do que clássico), mas acho que acabou faltando um pouco de emoção na trama.
Nota 3 de 5.
No final, posso dizer com tranquilidade que a coletânea vale o que custa — e deixa o leitor com vontade de ler os outros volumes. Acho que vale um 3,5 de 5 de nota final :)