Primeiramente, fora Temer. Segundamente, peço desculpas aos leitores do bróg por estar postando apenas esses posts de leituras do mês, e tão menos os posts, digamos, temáticos, ou monotemáticos, sei lá — mas vocês entenderam a ideia. É que está faltando tempo mesmo. Paciência. Mas, justamente por isso, esses posts “condensadões" são úteis; falo sobre todos os livros que quero falar e não deixo o blog morrer.
Esse mês de abril foi cheio de emoções, e nem todas elas boas. Li uns livros muito bons, descobri uma doença degenerativa na minha coluna, passei um final de semana num pesqueiro, terminamos — finalmente! —, eu e o Luís Beber, de escrever nosso livro em parceria (para lançamento em breve)… Enfim, vocês perceberam que realmente foi um mês de altos e baixos. E espero que os altos se proliferem e os baixos fiquem contornáveis :)
Mas vamos às obras do mês!
ROMANCES:
Que eu sempre gostei do Stephen King não é segredo, mas, mais uma vez, ele conseguiu me surpreender com Joyland. Dizem que não se deve julgar um livro pela capa, mas confesso que o que mais me atraiu nessa foi a ruiva que eu vim a descobrir ser a personagem Erin Cook. Essa ilustração, além de ser linda, muitíssimo bem executada, reflete perfeitamente a alma do livro — não que ela represente uma cena, exatamente, do romance, mas todos os elementos — e o clima — da ilustração são fidedignos ao que se encontra na história. Então, e a história? Vou contar a vocês que nunca imaginei que Stephen King pudesse ser tão… murakamesco. Quê?! Murakami e King na mesma frase? Sim! Olha que fantástico! Devin Jones, o protagonista de Joyland, poderia muito bem ser um personagem escrito pelo japonês — é melancólico, é uma boa pessoa, adora caminhar para aproveitar seus momentos de introspecção, é altamente mediano (mas com eventuais arroubos de protagonismo)… mas, apesar disso tudo, é um personagem cativante. Os coadjuvantes, como em qualquer obra do King, são adoráveis; bem-construídos e realistas — tanto que, lá pela metade do livro, eu me pego pensando: “que merda… esse é um livro do Stephen King… logo, logo, alguém vai se foder grandão… alguém ou todo mundo… vai vendo…" — mas, incrivelmente, não! Não estou dando spoiler; estou só dizendo que esta não é uma história típica do Stephen King! Arrisco mais uma vez dizer que é uma história que Haruki Murakami escreveria se fosse obrigado a escrever um thriller. Então, acreditem no que eu digo: o mestre King sempre surpreende. Leiam sem receio.
Mais uma vez, outro que deixei passar o hype para ler o
Guerra do velho, e posso dizer com toda a tranquilidade: QUE LIVRO FODA. A começar pela capa, que vende exatamente o que a história é. Passando pela escrita do John Scalzi, que é leve, fluida e sem grandes pretensões. Continuando pelos personagens, que são cativantes e bem construídos (só acho que o protagonista é sortudo até demais…). E culminando na história, que, basicamente — e o autor não esconde isso de ninguém — pegou a ideia apresentada em
Tropas estelares e a ampliou para um universo interessante, variado e coeso, com adendos de incrível criatividade.
Guerra do velho pega o que foi consolidado com as grandes
space operas do passado e entrega uma história moderna e deliciosa. 'Bora pro próximo livro, o
As Brigadas Fantasma :)
E, enfim, a trilogia
Comando Sul do escritor Jeff VanderMeer termina, com o romance
Aceitação… e eu tenho algumas considerações tanto do romance quanto da trilogia em geral — e, inclusive, do filme
Aniquilação. Mas, Rahmati, do filme também? Sim, porque o filme é um resumão da trilogia toda. Mas, antes, ao que interessa: esse terceiro volume é tão bom quanto o primeiro, ou mesmo tão razoável quanto o segundo? A resposta é simples: não. E talvez o culpado disso seja o filme. Vejam bem, não estou dizendo que os livros são ruins. A história toda é uma das coisas mais estranhas que eu já li — aliás, essa seria uma boa definição das duas mídias, livros e filme: é uma grande história de estranhamento com momentos de terror. Só que, enquanto o primeiro volume te introduz num mundo original para caramba, o segundo monta as bases e o terceiro dá os toques finais — porque não dá explicações, coisa que o filme faz. O problema é que os livros, falando do
Autoridade e do
Aceitação, enrolam demais. Dava, com folga, para ter feito um único livro, lá com suas 450 páginas, mas que fosse mais direto ao ponto, assim como o filme fez. Então o filme é uma boa adaptação? É! Porque tudo o que tem no livro está lá de alguma forma (e aqui vão os spoilers de ambos): o bicho que grita, que foi transposto para o urso decomposto; o duplo do faroleiro, que virou o duplo do marido da bióloga; o rastejador, que se transformou no alien do final… Só não gostei do filme ter entregado a origem da Área X na primeira cena, mostrando o meteoro. Mas… e o personagem John Rodriguez, o Controle? Sério: o que ele fez no livro? Serviu para quê? Não fez falta nenhuma. Em resumo: eu explico a Área X para mim mesmo como uma espécie de câncer do planeta. No filme, é aquele câncer que mata rapidamente; no livro, é o que mata aos poucos.
Mais um ótimo texto do Leonel Caldela, esse conto O cão é bem-escrito, denso, dramático e impactante. É uma história de fantasia que dialoga com outras obras do autor, como O código élfico e O caçador de apóstolos, mas não creio que se passe realmente no universo de alguma delas. É mais como uma “realidade alternativa", acho (coisa que gosto de fazer nas minhas obras também; todas têm elementos umas das outras). Para não variar, Leonel é brutal com seus personagens — e, aqui, isso se reflete principalmente no final, porque, apesar de eu imaginar que havia alguma coisa ali, eu jamais poderia esperar aquilo. Mais um ponto para o Caldela, e espero ansiosamente sua próxima obra que não for da série Ruff Ghanor.