“Desde o início da “maldição” — e assim era como seus próprios cidadãos a chamavam —, muito poucos viajantes passavam por Agliana por escolha própria, e muitos, quando o eram obrigados, se benziam com o gesto característico de seus deuses ao entrar e ao sair da cidade. O sol não chegava ao interior daqueles muros, e as pedras cinzentas, com as quais toda a cidade era construída, só ajudavam a tornar ainda mais deprimente o clima da urbe. A única iluminação das ruas era a artificial, e, ainda assim, muitas ruas pareciam muito mais escuras do que poderia ser considerado seguro.
Seguindo a viatura do decurião Maurillion, Yan dirigiu sua van por várias ruas escuras, frias e úmidas, até que chegaram à residência do regente Dragan. Como a grande maioria das casas da rua, a do regente não tinha nada de especial; era feia, de dois andares, espremida entre as outras, como se todas estivessem lutando pelo seu próprio espaço.
Com duas batidas secas à porta, Maurillion foi atendido pelo mordomo do regente, com a hospitalidade típica dos habitantes da cidade amaldiçoada — sem uma única palavra, ele deixou a porta aberta e virou as costas para os cinco visitantes.
— Suponho que isso signifique que podemos entrar, nos sentir em casa e que estão todos muito felizes em nos acolher, certo? — perguntou Jess.
— Vá se acostumando, meio-celta — respondeu Maurillion. — Aqui não receberá tratamento diferente."
(...)
“Juntamente com seus dois investigadores da legião, acompanhou-os até a casa de Nimatore o chefe da polícia de Agliana. Sob a chuva lúgubre, pararam defronte a uma suntuosa mansão, com um jardim que certamente fora belo nos dias em que o Sol visitava a cidade, há décadas atrás. Andrea Maurillion chamou, bateu com o cabo de seu gládio no metal do portão, mas não foi atendido. Não se notava movimento na residência, e nenhuma luz estava acesa.
Após algumas tentativas, o decurião perdeu a paciência. Preparou-se para arrombar o portão, ornado com um grande “N” duplo, esculpido em cobre ou assemelhado. Foi impedido, entretanto, por uma voz rouca e levemente sibilante, vinda de trás dele.
— Não desperdice suas forças, soldado.
Virando-se, Yan, Roy, Jess e Lavínia viram se tratar do conselheiro guaír que viram na Câmara mais cedo, e que ainda estavam com as vestes oficiais.
— Conselheiro — disse Roy. — Está nos seguindo?
— De certa forma — disse ele. — Sabia que, se fossem bons, chegariam a esse resultado — completou. Cada palavra que dizia com o fonema “s” soava como se fosse “sh”.
— Sabia que viríamos aqui? — perguntou Lavínia.
— Digamos… que eu saiba algumas coisas que vocês não — disse o guaír.
— Nimatore não está aqui, não é? — perguntou Yan.
— Não. Mas posso dar uma boa explicação… se vocês me acompanharem."
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